Palavra do Presidente: O salário em Real não vem mais de decretos, mas do aumento real da produtividade
11-05-2006 12:26

O governo do Estado teve muito tino apoiando o setor industrial, principalmente as micro e pequenas empresas, impulsionando e ajudando, não só a indústria, o Paraná e os cidadãos. Novos postos de trabalho formal se abriram, garantindo assim um digno sustento, um sonho inatingível para muitos. Uma visão interessante e arrojada do governo do Estado, e nem todos conseguem enxergar essa necessidade de parceria com o setor empresarial para garantir recursos, para implementar projetos e abrir novas frentes de trabalho. Pois o desafio maior dos homens públicos deste milênio será indiscutivelmente garantir fontes de renda formal, auto-sustentável e digna, para toda essa crescente massa que chega ao mercado de trabalho a cada ano. Observamos no Estado um movimento para a alteração do salário mínimo. Não sei quantas empresas serão afetadas e se existem grupos que estão contra, sendo que no Paraná muitos setores já oferecem salários mínimos muito acima do oficial, como exemplo o metalúrgico, que recebe piso de R$ 598,40. Partindo dessa base, não sei quantos não apoiariam a esse aumento salarial, alteração que eu considero interessante e necessária.
Imagino que, um empresário, ao fazer a análise do custo da mão de obra, além de levar em consideração a visão política, a boa administração dos governos locais e a posição do Estado e Município em relação aos demais no ranking, com certeza consideraria outros fatores, pois, no final, há muito estamos inseridos em um universo globalizado. Ponderaria sobre a carga tributária sobre seu produto, ações compensatórias, que este se vê obrigado a fazer, visando melhorar a qualidade de vida dos colaboradores, como exemplo, cito o seguinte fato: não adianta termos um bom sistema de saúde, comparado a outros municípios e estados, se de localidades vizinhas vem uma sobrecarga à saúde pública. Isso acontece e o que o empresário se vê obrigado a fazer? Pagar um plano de saúde para os seus.
Tenho certeza que o empresário preocupa-se com questões como competitividade do seu produto perante seus semelhantes, nacionais e particularmente internacionais. Internacionais, como? Se o nosso mercado é local! Vejamos as indústrias brasileiras de calçados, que estão tendo enormes problemas pela entrada de produtos chineses. São por problemas como este que todos nós deveríamos nos unir, levando as nossas reivindicações a instâncias superiores, pois o governo e a população, muitas vezes, tratam o empresário como inimigo. Alguém imagina que os empresários não querem que seu funcionário ganhe melhor? Existem ainda alguns retrógrados, antiquados, pobres de espírito, de mal com a vida, que não estão nem aí com o mundo, mas esses, com certeza, não representam a grande maioria. Só que enquanto o Brasil não tiver políticas industriais, ou melhor, políticas empresariais estruturadas e com uma estratégia em nível global, isto não vai parar. Temos que atuar com firmeza. O mundo se moderniza, e a tecnologia cresce de forma exponencial, todos os países querem abocanhar um pedaço do mercado nacional e internacional. Há uma corrida e o Brasil está ficando para trás e perdendo competitividade. Será que não é por isso que o empresário não pode pagar? O ponto decisório não está no que você paga ao seu funcionário, mas na produtividade deste e na competitividade do teu produto em relação ao mercado. O lucro está no aporte de capital investido na empresa e jamais em escravização de pessoas. Devemos nos unir, de maneira uniforme, para tirar nosso Brasil desse letargo. Nosso desafio comum é conter a desindustrialização para a qual o País está sendo arrastado pela perversidade dos juros altos, tributação desrespeitosa, valorização da moeda, desestímulo à produção e aos investimentos, a má educação e a desvalorização da ética e da moral. Valorizarmos as instituições que devem estar aí para cuidar da justiça, programas que resgatem a dignidade do ser humano, vítimas e agressores, redução dos níveis de criminalidade, eliminação do crime organizado, para que possamos nos preocupar com a falta de incentivos para buscarmos novas e alternativas tecnologias. Veja o grupo dos países emergentes: estamos situados na última posição do crescimento econômico, muito distante da China e da Índia. Dados recentes da Confederação Nacional da Indústria mostram que nos últimos dez anos, em média, o PIB per capita anual no Brasil aumentou 0,7%, contra 2,6% no resto do mundo. No mesmo período, o PIB no México, per capita, cresceu 2,1% e o do Chile 2,8%. Parece que estamos caindo nas armadilhas do mercado internacional. Parece haver um servilismo aos ditames de ordem macroeconômica, que nascem fora de nossas fronteiras e são aplicados aqui pelos condutores da nossa economia, como se fosse moda, mas sem observar se o "modelito" está do tamanho e estilo do Brasil. Estamos fazendo o jogo dos grandes, e como principiantes perdemos competitividade.
Insisto a cada momento em falar que o Brasil deveria exportar mais produtos com valor agregado, que as nossas comodities são, na maioria, finitas e será que vale a pena dilapidar o nosso patrimônio só para dizer que estamos tendo recordes em exportação? Vale a pena patrocinar a corrida espacial de outros países só para dizer que colocamos um homem na lua? Porque não focar nas nossas necessidades? Os exportadores de manufaturados, bens de maior valor agregado, mostram que o Brasil está perdendo competitividade. O nosso parque fabril está em perigo de sucateamento e futura extinção. O crescimento nacional no ano passado, de 2,3%, só superou o Haiti na América Latina. Diariamente, vemos as empresas nacionais serem adquiridas por grupos estrangeiros e, muitas, logo desaparecem. Vemos nove fábricas da Bunge e as outras duas, da sua concorrente, encerrando atividades. Isso representa 30% no setor de industrialização de soja. A República Tcheca, a China e o México estão levando empresas como a Black and Decker, a Azaléia e Paquetá Dumont, que está transferindo suas novas linhas de produtos. Muitas empresas que eu conheço, e sei de suas estratégias, já estão com um pezinho na China, prontas para se instalarem. Já imaginamos qual será a rota da Tritec Motores. Vejam o tamanho da extinção das nossas empresas. Comparando fevereiro deste ano com o mesmo período do ano passado, o IBGE indicou que houve queda de 0,8% no emprego industrial em todo o país, sendo que as demissões superaram as admissões em nove das catorze regiões pesquisadas. No Rio Grande do Sul houve 9% de queda, conseqüência do real valorizado, que prejudica as exportações de calçados e, principalmente, pela forma como é taxado e pela facilidade à importação de calçados da China. Assim não há setor que agüente e que garanta o emprego. O setor sofreu uma redução de 23,2% no emprego industrial. Aqui mesmo, a indústria madeireira demitiu, até agora, cinco mil pessoas, podendo chegar a 20 mil, caso o câmbio continue desfavorável. Passado o efeito anestésico da conjuntura favorável, criada quase que artificialmente, como redução de juros, expansão do crédito (que aliais deixa todo mundo endividado) e em função do investimento público, todos vão observar que esses números não são tão favoráveis, desde que comparados a outros e analisados por uma ótica de maior abrangência. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria mostrou que o PIB brasileiro expandiu-se 22,4%, entre 1996 e 2005, enquanto a economia mundial cresceu 45,6% e considerando que muitas destas economias já eram avançadas. Vocês acreditam que é possível que as empresas brasileiras sobrevivam e consigam crescer, abrir novas fontes de emprego, dar salários dignos ou, pelo menos, garantir os empregos? Em longo prazo não existe horizonte! Está na hora de fazermos algo, juntar as nossas forças e lutar para dar um rumo na política econômica brasileira. Em Brasília, na "Esplanada Palaciana", parece que estão pouco preocupados com os empresários, vivendo alheios às nossas dificuldades e necessidades, esquecendo que somos o principal elemento gerador de riquezas e grande pivô da economia. Talvez se a nossa especialidade fosse fabricação de "dutos", daqueles dutos se elaborariam políticas empresariais dignas. Aqui em São José dos Pinhais, devemos fortalecer a nossa Associação, nos unir e lutar para que os juros sejam trazidos a níveis compatíveis, para gerar um ambiente propício para o desenvolvimento sustentado da indústria. Lutar para que não volte a inflação, que a produção e o consumo sejam desonerados da exagerada carga tributária, que o câmbio seja conduzido a um valor que favoreça o crescimento da economia, que se tomem políticas de proteção ambiental, subsidiando se necessário, para que estejamos inseridos dentro da modernidade, conhecendo e dominando as técnicas modernas, mas que o façamos com segurança e garantindo toda a nossa soberania de riquezas, naturais, evitando que no futuro digam que os brasileiros não conseguem cuidar do que é deles, que estamos dilapidando o patrimônio mundial e venhamos a ser tratados como mais um país invadido por tolice. Incompetência nossa, que não estamos fazendo o dever de casa.
Agora eu pergunto: Será que os brasileiros, principalmente os mais humildes, o Brasil de hoje, e do futuro especialmente, não merece que trabalhemos juntos em seu favor?

Foto: Julio Cesar Canestraro, Presidende ACIAP.

Publicado: Assessoria de Imprensa da ACIAP