Ciência e Tecnologia

Cooperação com Japão aproxima Brasil de descobrir "continente perdido" no Atlântico Sul
06-05-2013 19:15

Uma expedição do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) com a cooperação da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar (Jamstec) deixou pesquisadores mais perto de concluírem que a Elevação do Alto Rio Grande, região mais rasa localizada a cerca de 1,5 mil quilômetro da costa Sudeste do país, é uma parte da Plataforma Continental Brasileira, que se desprendeu e afundou com o movimento das placas tectônicas.

Hoje (6), representantes da Jamstec, da Embaixada do Japão no Brasil e do governo brasileiro se reuniram no Píer Mauá para celebrar a cooperação entre os dois países e para dar início à exposição A Nova Fronteira do Conhecimento, que ficará aberta ao público hoje e receberá alunos de escolas públicas amanhã (7).

As novas conclusões foram obtidas a partir do apoio do submergível japonês Shinkai 6500, capaz de chegar a 6,5 mil metros de profundidade, e que foi usado para coletar material da região do Alto Rio Grande. Por meio de dragagem, pesquisadores brasileiros já tinham encontrado granito na região e agora confirmaram a presença da rocha com os mergulhos possibilitados pelo veículo. Menos denso que as rochas normalmente encontradas no fundo do oceano, o granito está mais associado aos continentes. O Pão de Açúcar, por exemplo, é feito de granito.

"O fato de haver um continente naquela região, nos abre outras possibilidades. Até que ponto foi uma extensão de São Paulo que se desgarrou e ficou para trás? Isso nos leva a pensar no que fazer para a região. Não só conhecer, mas requerer essa área", disse Roberto Ventura, diretor de Geologia e Recursos Minerais do CPRM. Ele conta que o Alto Rio Grande tem sido chamado de Atlântida no órgão, em referência ao mitológico continente que teria afundado no oceano.

O tamanho do Alto Rio Grande ainda não foi definido com clareza, mas Ventura estima que seja comparável ao estado de São Paulo. O diretor conta que países como Rússia e França já requereram áreas no Atlântico Sul, onde a China também realiza pesquisas, o que torna o estudo estratégico para o Brasil, que tem a maior costa do oceano. A longo prazo, segundo o geólogo, a região pode se tornar um ponto de mineração submarina, com a perspectiva de extração de ferro, manganês e cobalto.

O Shinkai 6500 custou cerca de US$ 130 milhões ao governo japonês e faz pesquisas em águas profundas desde 1991. Também foram investidos US$ 100 milhões no navio Yokosuka, para adequar a embarcação para transportar o submergível. Hiroshi Kitazato, pesquisador japonês que coordenou os trabalhos da Jamstec na expedição, destacou o interesse do país asiático em pesquisar o oceano: "Essa é a região que menos foi explorada no mundo inteiro. Então, acreditamos que é muito importante pesquisá-la. Antes, o Shinkai fez expedições mais próximas ao Japão, no Índico e no Pacífico".

Roberto Ventura conta que um submergível como o Shinkai e um navio como o Yokosuka são tecnologias que "não podem ser compradas em prateleiras", pois precisam ser desenvolvidas e operadas por pessoal capacitado, condições de que o Brasil ainda não dispõe. O pesquisador criticou a burocracia a que estão submetidas pesquisas científicas, que precisam de importações de peças. "O nosso amadurecimento precisa ser na questão burocrática também. Para a gente competir, do ponto de vista tecnológico, em ciência, a gente precisa ser muito mais ágil", destacou.

O pesquisador do CPRM Eugênio Frazão esteve em um dos sete mergulhos em grande profundidade. O pesquisador levou cerca de uma hora e meia para atingir a profundidade de 4,2 mil metros. O mergulho durou cerca de oito horas. Ele destaca que, além de rochas continentais, foram encontradas espécies não conhecidas em situações muito adversas, e até um coral com caraterísticas específicas de águas profundas.

A expedição Iatá-Piuna, navegando em águas profundas e escuras, em tupi-guarani, teve início em 13 de abril, na Cidade do Cabo, na África do Sul e percorreu, no primeiro trecho, a Elevação do Rio Grande e a Cordilheira de São Paulo. No segundo trecho, será explorado o Platô de São Paulo. Seis pesquisadores brasileiros acompanham o navio que depois de pesquisar o Atlântico Sul, segue para o Mar do Caribe.

Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil
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