Reflexão

A Benção do Choro



Muito sol torna a terra em deserto; diz um antigo ditado árabe. De fato, quando sempre e apenas brilha o sol, a terra fica esturricada e torna-se infrutífera. Tem coisas que somente reagem com a chuva. E, somente as lágrimas nos permitem ter certas vivências. Nenhuma outra situação nos permite experimentar a amizade e a bondade das pessoas, vivenciar a misericórdia e o consolo de Deus como a tristeza e o luto. Pela tristeza e pelo luto somos conduzidos às profundezas da vida para então - se o soubermos entender e aceitar - sermos reconduzidos, outra vez para fora, fortalecidos, renovados e mais maduros.

Creio que é sobre este pano de fundo que devemos entender a segunda bem aventurança de Jesus: "Bem aventurados os que choram; pois serão consolados" (Mateus 5.4). No original grego, o termo "chorar" refere-se a uma dor muito forte, como alguém que está de luto, que lamenta amargamente a morte de uma pessoa amada. Trata-se de alguém que está desesperadamente triste e aflito, incluindo aqueles que sofrem pelos outros e ajudam a carregar suas aflições.

Mas a ideia central parece referir-se a alguém que chora e está profundamente entristecido e aflito em vista de seus pecados. Já no início do Sermão do Monte Jesus conclama: "Arrependei-vos porque é chegado o reino dos céus". Contudo, ninguém pode arrepender-se, a não ser que esteja consciente de seus pecados e, por isso, aflito e sinceramente arrependido. O problema é que, sem a ajuda do Espírito Santo, tal conscientização é impossível. Por isso, feliz quem está profundamente triste por causa de seus pecados, quem está com o coração quebrantado, lamenta e reconhece o quanto fez sofrer e ofendeu a Deus. Bem aventurado sou eu, portanto, quando - ao contemplar a Cruz - fico horrorizado e não consigo deixar de amargar a devastação que o pecado pode causar. Felizmente, ao arrependimento - gestado em meio à tristeza - segue-se a alegria, tal como os raios luminosos do Sol seguem à chuva que umedeceu e fertilizou a terra! Maior que a dor, resultante da consciência do mal dentro de nós, é sempre o consolo divino que ilumina, aquece e revigora nossas vidas! Palavra do Senhor: "Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito" (Isaías 57,15).

Pr. Egon Lohmann, Pastor Emérito, Curitiba/PR


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