Palavra do Presidente: Será que ainda temos tempo de errar?
10-04-2006 20:00

É, o COP - MOP terminou! O que sai de tudo isso? Vimos muitas delegações irem e virem nos eventos e tivemos a oportunidade de conversar com muitos delegados. Acompanhamos nos noticiários os grandes interesses presentes, querendo impor seu ritmo nos trabalhos do Congresso Mundial do Meio ambiente.
Dentro de todos os temas que foram tocados, temos grandes avanços: comunidades explorando de forma sustentável a biodiversidade; incremento no chamado turismo verde, com resorts, voltados a preservação e conservação dos ecossistema; áreas protegidas; a Vale do Rio Doce fazendo um maravilhoso trabalho socialmente responsável, reflorestando a Amazônia; muitos projetos mundiais para preservação de espécies; redes internacionais de combate ao trafico e a venda ilegal de animais; rede virtual de informações - onde cada país está catalogando sua biodiversidade e que, na minha leiga concepção e análise, cada país além de catalogar as espécies com nome científico, local de origem, fotos e outras informações, deveriam também elaborar um banco de dados genético, mapeando os DNAs, de todas essas espécies. Quem sabe, no futuro, ao serem analisados, esses bancos de dados de DNA possam trazer a resposta a algum enigma da humanidade, como a famosa "gripe das aves". Será que todas são transmissoras? Isso não seria uma excelente fonte de informação? Tivemos pontos onde nada avançamos, como o dos organismos geneticamente alterados, tão debatidos dentro do nosso estado. Na realidade o tema da "rotulagem" significa que qualquer carregamento de organismos geneticamente modificados deveria ser acompanhado de um documento, com a informação de que é geneticamente modificado. Em havendo uma série de possíveis modificações genéticas que cada organismo pode sofrer, pressupõe-se que deveremos exigir que o carregamento, além de especificar que tipo de modificação genética o organismo sofreu e também informar se o carregamento contém mais do que uma das variantes de "organismo geneticamente modificado". Por que? Porque, supostamente, é um direito adquirido através da lei do consumidor, onde a população deve ter garantia do direito a informações referentes a tudo que ela está consumindo, tendo assim preservado o seu direito a livre escolha; além de conscientizá-lo para que possa analisar se existem ou não conseqüências em função disto, para si e para o meio ambiente. Por um lado temos a Ciência avançando. Não é interessante ficarmos no obscurantismo, nem como pessoas, nem como país. No avanço tecnológico pode estar a cura, a solução para a fome mundial, mas como sempre digo: é preciso ter equilíbrio. Como contraponto, temos a questão de não ter sido provado se as alterações genéticas são prejudiciais ou não, tanto ao meio ambiente, como à saúde humana. Educação, conscientização e erradicação da fome no mundo são a saída para a maioria das questões ambientais.
É importante que levemos em consideração a fragilidade e a forma orquestral como se mantêm todos os ecossistemas e o equilíbrio da natureza. Durante anos pudemos observar como a entrada de determinado organismo, ou saída de outro, afeta grandemente um ecossistema; vale o exemplo do caos que estamos causando nos eco-sistemas formados pelos arrecifes de coral, a raiz de ações do homem que procuram conter a fome. Por tanto, questões que aparentemente são uma solução a nossa constante necessidade de alimentar a raça humana, vem mostrando-se não ser o melhor recurso para enfrentar o problema. É isso que aflige muitos ambientalistas: quais serão as conseqüências futuras que estamos desencadeando e quão desastrosas estas poderão ser? Vamos ter condições e tempo de corrigir os erros de percurso? Isso não agravará o problema alimentar existente no mundo.
Hoje em dia, na compra de matérias primas, dizem que a responsabilidade do conteúdo é de quem compra, já que ele poderá entrar nos computadores dos países produtores e ver todas as variantes de organismos geneticamente alterados. Só que este, não saberá distinguir quais destes tipos de alterações estão contidos no carregamento, já que este pode conter um "mix" de tudo isso e mais um pouco. Em função disso, o país comprador que utilizar uma dessas matérias primas, não terá como explicar para seus clientes o que ele estaria vendendo e quais tipos de organismos geneticamente alterados compõem o seu produto.
Observamos alguns países, como os EUA, que não tem assinado os protocolos de intenções, não tem interesse de participar na rotulagem dos seus produtos e nem chamar para sim esta responsabilidade. Como fica isso? A indústria, propriamente dita, teria um custo para modificar os rótulos das embalagens, mas a meu ver, o custo seria muito pequeno pois, com a ISO 9000/2000, você já é obrigado a controlar uma série de questões, tais como: lote e composição das matérias primas envolvidas. Devemos assim exigir dos nossos fornecedores que estes entreguem certificados de origem com a composição de seus produtos. Imagino, que o custo para colocar estas informações nos rótulos, tanto de quem as produz , como de quem os utiliza para fabricar outros produtos, seria muito pequeno.
Por outro lado, temos um ponto bastante polêmico, que é a pesca predatória em águas continentais. Até agora, países com necessidade de alimentar uma massa gigantesca de seres humanos e que possuem espaços limitados, como o Japão, praticam muito este tipo de pesca. Mas, as conseqüências da pesca de arrastão são devastadoras. Trazem consigo uma enorme quantidade de seres vivos, os quais nem sempre são aproveitados e morrem inutilmente, provocando uma maior desestabilização dos ecossistemas. Não sei se o mais conveniente seria começar um projeto mundial para repovoar estes espécimes que são mais consumidos. Assim, as embarcações que se lançarem aos mares teriam que, por obrigação, levar uma carga de filhotes destes peixes, visando repôr ao mar tudo aquilo que se extraiu. Algo como o que se esta exigindo da industria madeireira, A mesma se deu conta de que sem isso não terá futuro, pois esta acabando com seu principal insumo.
Também há que ter um enorme cuidado como os ecossistemas costeiros, pois o despejo de dejetos humanos e lixo dos veranistas estão trazendo gravíssimas conseqüências ao meio ambiente, acabando com uma das grandes fontes de alimentos da humanidade. Todos os países deveriam se preocupar com eficientes sistemas de redes de esgoto, em todas as regiões litorâneas, garantindo que possamos despejar as águas dentro do mar e sem poluição.
Os Governos pensam neste tipo de investimento como se fossem custos, mas ninguém está planejando em longo prazo. Não observam os gastos públicos com doenças gastrintestinais, de pele, os problemas de escassez de alimentos que temos e teremos. Poucas cidades dão importância ao fato de garantir um melhor aproveitamento aos recursos não renováveis através da reciclagem, gerando as catástrofes climáticas, em função da degradação ambiental, que custam vidas, destruição ambiental, material e rios de dinheiro aos cofres públicos.
Outro ponto no qual há debates são as famosas sementes exterminadoras. As sementes híbridas que existiam quando éramos pequenos e cujos subprodutos poderiam ser replantados, mas a planta proveniente destas, nascia cada vez mais debilitada. Pois, hoje, a indústria tem conseguido um híbrido com mais qualidade, a planta suporta melhor os seus predadores naturais, é mais resistente e tem alta produtividade, mas o seu subproduto não mais se reproduz. Vantagem? Avanços científicos geram uma alta produção, ajudando alimentar a imensa quantidade de seres humanos no mundo. Desvantagens: o agricultor tem que investir uma e outra vez neste tipo de sementes para poder replantar no próximo ano; diminui as variedades de plantas existentes em cada região e que a natureza levou milhares de anos para adequá-las. Vão sendo colocadas de lado e, cada vez menos destas plantas hão de existir, nos diversos ecossistemas, podendo levar esta até a extinção. Riscos? A solução é que cada país se obrigue a fazer uma área de preservação destas espécies. Se por algum motivo qualquer, esta empresa que detêm o monopólio, em função da patente do produto, não conseguir dar vazão à demanda, ou não quiser vender para um determinado país por questões comerciais, os agricultores terão de onde conseguir as sementes necessárias para o replantio destes produtos. A própria reserva do Governo não teria condições de suprir a demanda regional necessária para garantir a safra dos anos subseqüente. Poderíamos variar o plantio, de um ou de outro tipo. Os governos poderiam entrar com um sistema compensador, caso um determinado tipo tenha um preço maior em relação ao outros. Economicamente vemos que há mercado para tudo, seja transgênico ou orgânico, então, porque não investimos em diferentes tipos de cultivos.
A luta ao direito de receber parte dos lucros da comercialização de produtos, resultantes dos conhecimentos tradicionais e das plantas regionais, continua. Vamos ver se conseguimos pelo menos colocar uma data limite para analisar e fechar o assunto em nível internacional. Mas a nível governo, devemos patentear todo que seja possível. Nós, como público leigo, às vezes ouvimos uns mandatários se posicionarem de uma forma, outros de outra, mas ouvimos como quem ouve chover. Está na hora de analisarmos a fundo todas estas questões e começarmos a fazer pressão para o que cada um de nós considera conveniente. Temos que pensar: tudo isso foi presente de um Ser Supremo. Será que o estamos usando da forma como ELE teria desejado?


Foto: Júlio Cesar Canestraro Presidente da ACIAP

Publicado: Assessoria de Imprensa da ACIAP