Internacional

Missão espacial que vai testar experimento da Embrapa no espaço é adiada
24-01-2006 10:42

A viagem do primeiro astronauta brasileiro, Marcos Pontes, à Estação Espacial Internacional – ISS, que estava marcada para o dia 22 de março próximo, teve que ser adiada para o dia 30 de março, por questões técnicas com a nave russa Soyuz, que vai levar Pontes e mais dois astronautas, um russo e um americano, ao espaço.

A afirmação foi feita pelo gerente técnico da Agência Espacial da Federação Russa, Sergey Rybkin, durante a abertura da Reunião para Análise dos Experimentos da Missão Centenário, hoje, às 11h30, na sede do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos, SP.

Segundo Rybkin, a mudança na data da expedição foi solicitada pelos cientistas russos para que seja feita uma verificação técnica mais detalhada da nave. Ele explicou que mudanças como essas são comuns e não merecem maiores preocupações.

Rybkin ficará em São José dos Campos até o dia 26 de janeiro, liderando uma comitiva russa composta de mais doze pessoas, que vai avaliar os nove experimentos científicos de instituições brasileiras que serão testados na ISS.

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília - DF), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, é responsável por um desses experimentos, que vai avaliar a germinação de sementes de Gonçalo Alves em condições de microgravidade.

Essa é a primeira vez que uma espécie tropical será testada no espaço. Gonçalo Alves é uma árvore madeireira nativa do cerrado e foi escolhida por ter uma germinação rápida e homogênea, o que facilita a obtenção de resultados durante o período do vôo, que será de oito dias. Além disso, suas sementes são tolerantes a diferentes tipos de estresse.

O objetivo é avaliar os efeitos da gravidade sobre diversos processos biológicos vitais para as plantas, como fisiológicos, bioquímicos e biofísicos responsáveis pela germinação e fases iniciais do desenvolvimento de plântulas de uma espécie arbórea tropical. Segundo a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Antonieta Salomão, dependendo da espécie, respostas diferenciadas ao efeito da microgravidade são observadas. “A intenção da Embrapa com esse experimento é identificar os genes responsáveis por esses processos biológicos e chegar a formas mais eficientes de conservação e uso das espécies tropicais”, ressalta.

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia está colaborando também com experimentos de alunos de 7ª e 8ª séries de quatro escolas da rede municipal de São José dos Campos, em São Paulo, que também serão enviados ao espaço à bordo da nave russa. Eles consistem na avaliação de sementes de feijão em condições de baixa gravidade e cromatografia de clorofila a partir de um extrato de folhas de couve. As sementes de feijão que serão testadas na estação espacial fazem parte do Banco Genético da Unidade, que hoje conta com cerca de 96.000 amostras de sementes de aproximadamente 400 espécies de importância sócio-econômica para o Brasil.

Testes vão avaliar a segurança dos experimentos

Segundo o chefe da missão “Centenário”, Raimundo Mussi, os testes vão avaliar a segurança dos experimentos quanto à vibração, alimentação elétrica e a parte química, e serão realizados nos laboratórios do INPE. Esses testes são rotineiros e têm como objetivo analisar a segurança dos experimentos antes que sejam conduzidos à Estação Espacial Internacional. Rybkin explicou que a ISS é multinacional, e envolve 16 países. A Rússia é responsável por todos os experimentos que serão levados pelo astronauta brasileiro, já que a sua primeira viagem ao espaço é resultado de um acordo entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Espacial da Federação Russa (Recocosmos) e, por isso, todas as precauções devem ser tomadas para evitar qualquer dano à ISS ou à equipe envolvida. Os resultados quanto à aprovação dos experimentos serão divulgadas no fim dessa semana.

Além da Embrapa, estão envolvidas também na missão espacial, que foi denominada de “Centenário”, em homenagem ao vôo de Santos Dumont com o 14 Bis há 100 anos, as Universidades Federais de Santa Catarina e Pernambuco; a Universidade Estadual do Rio de Janeiro e o MCT.

O gerente técnico da Agência Espacial Russa finalizou lembrando que, apesar da comitiva russa ser composta por 13 membros, o que para muita gente pode ser considerado um número de azar, a reunião em São José dos Campos será muito produtiva. Mas não adiantou quantos projetos poderão ser “barrados” da nave Soyuz.


Fernanda Diniz
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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