Internacional

Paraná vai propor rotulagem dos transgênicos em conferência mundial
19-01-2006 10:33

O governador Roberto Requião revelou nesta quarta-feira (18), ao receber o diretor executivo da 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Biodiversidade Biológica (COP8), o argelino Ahmed Djoghlaf, que o Paraná pretende propor aos representantes dos 188 países participantes que seja adotada a rotulagem dos produtos transgênicos, para que a população mundial tenha conhecimento daquilo que está consumindo.

“Temos que entrar num supermercado e saber o que estamos levando para casa. O interesse das multinacionais e dos exploradores de sempre tem impedido que isso aconteça. Mas aqui no Paraná jogaremos pesado”, disse o governador, que fez questão de destacar ainda que o “Estado é pioneiro no Brasil e uma frente de resistência contra o avanço dos produtos transgênicos, que promovem a eliminação da biodiversidade e das sementes naturais”.

O secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Luiz Eduardo Cheida, arrisca em dizer que a proposta de rotulagem dos produtos transgênicos será o ponto alto da conferência mundial, a ser realizada de 20 a 31 de março em Curitiba, com a presença de um público de 12 a 15 mil pessoas, entre os quais 45 ministros do meio ambiente. “O Paraná conquistará importantes apoio para sua proposta de rotulagem dos produtos geneticamente modificados, especialmente entre os participantes da 3ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena (MOP3), um dos eventos a ser realizado dentro da conferência mundial, que entende que a informação ao consumidor é não só uma questão de respeito, mas de segurança alimentar”, disse.

Cheida reconhece que não existe consenso entre os países sobre a rotulagem dos produtos geneticamente modificados. Alguns países resistem a proposta. “Porém, nos entendemos que a rotulagem deve existir. Essa é uma “briga” dura, indigesta, mas tenho certeza que com bastante habilidade o governador Roberto Requião vai fazer deste tema o ponto alto do evento e, com certeza, sairemos dele bastante fortalecidos na luta contra os transgênicos”.

Além da rotulagem, o Paraná pretende propor que cada país crie áreas (Estados) livres de transgênicos, para se manter a biodiversidade e as sementes “crioulas” – naturais – em estoque, como “estamos vendo hoje no Paraná, onde se tem uma quantidade suficiente de sementes de soja sem modificação genética. Infelizmente, o mesmo não ocorre em estados como o Rio Grande do Sul, onde se perdeu completamente o controle sobre as sementes transgênicas. Acredito que essas duas questões são as mais sérias a serem tratadas na conferência”.

Em sua opinião, existe um terceiro desafio a ser enfrentado. “O desafio de se implantar toda e qualquer decisão tomada pela conferência, para que não se caia numa situação de vazio, onde se faz grandes discussões, mas que na prática as medidas terão eficácia. Essa aliás é uma das preocupações do governador Roberto Requião, da própria ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, e daqueles que querem ver os avanços no campo da biodiversidade”.

Santuário ecológico – Ao ser recebido pelo governador Roberto Requião, Ahmed Tjoghaf estava na companhia de Tony Gross, representante do Ministério do Meio Ambiente; Paulo Borda Silos, do Itamaraty; Marino Egidio, superintendente do Ibama no Paraná; Hélio Amaral, diretor executivo da Unilivre; Ricardo Ramirez, coordenador de Biodiversidade e Florestas da Secretaria do Meio Ambiente; Rasca Rodrigues, do IAP – Instituto Ambiental do Paraná; e Liz Zeni, da Urbs.

Depois de percorrer vários locais de Curitiba, o diretor executivo da conferência mundial mostrou-se otimista com o sucesso do evento, “pois vamos querer aprender como se comportar numa cidade verde como Curitiba”. Ahmed Djoghlaf disse ainda que existe a possibilidade de ministros do meio ambiente de cerca de 40 países visitarem as Cataratas do Iguaçu, em Foz do Iguaçu. A viagem, segundo ele, será uma oportunidade para se conhecer o “verde” do Paraná.

O governador revelou então que o Estado mantém apenas 5% de sua vegetação natural e que vem fazendo todo esforço possível para recuperar áreas que foram degradadas no passado. “Na minha visão, o pouco que sobrou tem que virar “santuário ecológico”. Não se pode mais falar em exploração sustentável, sem preservar a cobertura original. A exploração sustentável, defendida por muitos, seria um passo definitivo para a destruição. A exploração sustentável é possível na Amazônia, que promoveria a supressão da devastação. Mas no Sul do Brasil, onde restam poucas áreas verdes, esta visão seria o início do fim”.

De acordo com o governador Requião, as áreas verdes são preservadas na região sul não por causa de uma consciência ecológica, mas porque se encontram em lugares de difícil acesso. “No Paraná, temos enfrentado uma oposição muito grande no que se refere a preservação do meio ambiente. Alguns deputados insistem em eliminar a reserva legal e tentam através de mecanismos legais criá-las em outras regiões. Por exemplo: comercializaríamos o que resta da Serra do Mar para que não sejam destruídas as matas que ainda existem no Oeste e Sudoeste. O pior de tudo é que essas propostas vem com o apoio de bancos internacionais. Estamos nos contrapondo a isto e apostando na criação dos “corredores biológicos”, que estabeleçam contatos com o Mato Grosso do Sul e Serra do Mar”.

Conferência Mundial - A 8.a Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8) e 3.a Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena (MOP3) serão realizadas em março, em Curitiba, com o objetivo de traçar planos e adotar medidas no que se refere à proteção, recuperação e uso sustentável da biodiversidade.

Entre as responsabilidades do Governo do Estado está a organização de visitas técnicas e turísticas de interesse dos delegados de cada evento e a capacitação dos profissionais envolvidos. A segurança da convenção também fica a cargo do Estado. O Ministério do Meio Ambiente deverá investir cerca de R$5,5 milhões na Conferência, além da contrapartida do Estado e município de Curitiba.

A COP8 será realizada entre os dias 20 a 31 de março e a MOP3 entre os dias 13 a 17 de março. Outros 40 eventos paralelos estão sendo montados e incluem visitas a Unidades de Conservação e apresentações. A expectativa é que estejam presentes 45 ministros de meio ambiente e público de 12 mil a 15 mil pessoas durante o mês. As conferências acontecem a cada dois anos em uma parte do mundo, alternando os continentes.

Agência Estadual de Notícias
Foto Julio Covello-SECS
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