Política

Deputada que havia sido cassada foi a mulher proporcionalmente mais votada para a Câmara Federal
08-10-2006 05:32

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Deputada federal eleita com a maior votação proporcional no país, Janete Capiberibe (PSB-AP) volta à Câmara Federal um ano depois de ter tido o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, por irregularidades na campanha de 2002. Eleita com 29.547 votos válidos (10,3%), ela diz ter se inspirado nos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales.

Janete recuperou o mandato com apoio de mais eleitores do que há quatro anos, quando obteve 23.203 votos (9,6%). Ela afirma não temer novos problemas: "Sei que fiz tudo certo e que o povo vota em quem trabalha por ele".

Em abril de 2004, Janete e o marido, o então senador João Capiberibe, foram condenados com base em gravação na qual duas mulheres diziam ter recebido R$ 26 para votarem no casal. Dias depois, o ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar que permitia aos dois continuarem no cargo.

Em setembro de 2005, o plenário do Supremo derrubou a liminar e o casal teve de deixar o Congresso. João saiu do Senado em dezembro, e Janete perdeu o mandato em janeiro. O casal atribui a cassação a armações de inimigos políticos no estado. "Aquilo foi uma fraude", relembra. "Recebemos manifestações de solidariedade de todo o Brasil e até do exterior."

Nos últimos meses em que ficou sem mandato, Janete retornou ao Amapá com o marido. Nesse período, ela diz que o casal percorreu o estado para ouvir as necessidades da população. "Seguimos o exemplo de Hugo Chávez e de Evo Morales, que conversaram com o povo antes de chegar ao poder", compara.

No novo mandato, Janete promete continuar lutando pela defesa de projetos para melhorar a qualidade de vida na Amazônia, como a profissionalização das parteiras e os mutirões de cirurgias de catarata. "Quero apenas trazer um pouco de igualdade para o mundo", diz.

Janete tem 58 anos e conta que se iniciou na política aos 13. Filha de uma doméstica e de um balconista, Janete nasceu na cidade histórica de Amapá. Aos 7 anos, mudou-se para a capital do estado, Macapá. No ano seguinte, o pai tornou-se cozinheiro da companhia norte-americana Icomi, que extraía manganês da Serra do Navio. Vivendo numa vila de mineiros na infância, ela conta que ali conheceu a segregação social, aplicada pelos norte-americanos aos operários brasileiros.

Na adolescência, Janete foi estudar em Macapá e entrou em contato com o movimento comunista. Também na capital, ela conheceu o marido. Os dois se mudaram para Belém e, pouco depois de se casarem, em 1970, foram presos pela ditadura quando viajavam para o Araguaia, para participar da guerrilha que o Partido Comunista organizava ali.

Ela estava grávida de oito meses e conseguiu a liberdade vigiada para ter a filha, batizada de Artionka. Depois de 11 meses numa prisão do Exército, o marido ficou doente e fugiu vestido de médico após ser transferido para a Santa Casa de Belém.

O casal passou quase dez anos no exílio, entre Bolívia, Peru e Chile. Depois do golpe sobre Salvador Allende. em 1973, o casal conseguiu asilo no Canadá. O casal ainda morou em Moçambique, antes de voltar para o Brasil. Passaram por Pernambuco e pelo Acre, depois retornaram a Macapá, onde João foi eleito prefeito, e Janete, a vereadora mais votada, em 1988.

Desde então, foram três mandatos como deputada estadual, dois dos quais também como primeira-dama do estado. Em 1º de outubro, João foi derrotado na disputa pelo governo do estado por Waldez Góes (PDT), que se reelegeu no primeiro turno, com 53,69%.



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