Política

Hegemonia dos EUA mostra sinais de decadência, dizem ativistas sul-americanos e do Oriente Médio
26-01-2006 17:43

Caracas (Venezuela) – Intelectuais e ativistas de diversos países latino-americanos e do Oriente Médio presentes ao debate de ontem à noite (25) no 6º Fórum Social Mundial foram unânimes ao afirmar que o poder imperial dos Estados Unidos apresenta sinais de decadência. Por isso, dizem, é preciso entender melhor o que ainda sustenta seu poder e formular estratégias conjuntas, em especial na América Latina, para enfrentá-lo.

O painel Estratégias Imperiais, Militarização e Resistências dos Povos foi uma das atividades propostas pelo comitê organizador do fórum em parceria com as entidades que participam do evento. O debate sobre o imperialismo, a guerra e a militarização é considerado o tema central em Caracas. Alguns dos países com o maior número de participantes no fórum, como o próprio Estados Unidos, a Venezuela e a Colômbia, estão hoje envolvidos diretamente em problemas relacionados com o tema.

A Venezuela tem sofrido resistência aberta dos Estados Unidos a suas intenções de compra de equipamentos militares de defesa de países como a Espanha e o Brasil. O presidente do país, Hugo Chávez, também acusa o governo americano de ter auxiliado na articulação de golpe de Estado contra ele, em 2001.

A Colômbia vive uma situação de guerra civil há cerca de quatro décadas. Os ativistas colombianos presentes ao fórum acusam o governo de Alvaro Uribe de legislar em favor dos grupos que promovem a expropriação de terras indígenas e pela omissão em relação a atos praticados por grupos paramilitares no país, além de conivência em relação à morte de ativistas e líderes comunitários.

Os Estados Unidos, por sua vez, considerados a potência imperial da atualidade por excelência, têm atualmente 500 mil soldados fora de seu território, além de manter oficialmente 725 bases militares em 38 países, segundo dados apresentados pelo cientista social argentino Atilio Borón, secretário executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso).

O maior sinal da decadência do poder norte-americano, disseram os participantes do evento, é o atual revés enfrentado pelas forças dos EUA na ocupação do Iraque. "O que está acontecendo no Iraque é uma grande derrota do projeto colonialista no Oriente Médio", disse Jamal Jumá, ativista palestino do movimento Stop the Wall (Pare o Muro), que protesta contra a construção de um muro para isolar a Palestina de Israel. O grupo acusa Israel de promover um "apartheid" semelhante ao que havia na África do Sul até o início dos anos 90.

Outros eventos recentes demonstram a decadência do poder norte-americano, segundo Ricardo Alarcón, presidente da Assembléia do Poder Popular de Cuba: a vitória do líder indígena Evo Morales nas eleições presidenciais venezuelanas e a derrota da proposta norte-americana de retomar e acelerar as negociações pela criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), durante a 4ª Cúpula das Américas, em Mar del Plata (Argentina), em 2005.

"O imperialismo não é invencível, mas não vai cair facilmente", advertiu Alarcón. "Falo em nome de um povo que prova ser possível vencer, mas que é necessário lutar sem cessar", disse, em alusão ao bloqueio econômico e várias outras sanções promovidas contra Cuba por parte dos Estados Unidos.

Os ativistas também chamaram a atenção para o avanço dos governos que consideram progressistas na América Latina. "Este será o cenário final do combate contra o imperialismo", disse Borón.

O escritor venezuelano Luis Brito Garcia defendeu o reforço da união entre os países da região. Para ele, apesar de os Estados Unidos gastarem quase dez vezes mais que toda a América Latina com suas forças armadas, o efetivo militar dos dois "lados" é equilibrado, o que impede atualmente uma política mais agressiva dos EUA em relação ao continente. Segundo dados citados por Garcia, os EUA teriam em suas forças 1,414 milhão de homens, enquanto os países da América Latina, juntos, teriam 1,25 milhão.

Spensy Pimentel
Enviado especial
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