Política

Lula afirma que houve ''muita fumaça e pouco fogo'' sobre relação com Bolívia
13-05-2006 23:57

Spensy Pimentel*
Enviado especial

Viena (Áustria) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou que a reunião com Evo Morales sobre a relação dos dois países e a questão do gás boliviano mostrou que havia "muita fumaça e pouco fogo". A referência é sobre as declarações de Morales de que a Petrobras trabalharia ilegalmente no país e de que a empresa brasileira não seria bem-vinda no projeto do mega-gasoduto sul-americano. A reunião de hoje, segundo as declarações dos presidentes, marcou a afinidade e a intenção de ampliar a integração da América do Sul.

"Tinha muita fumaça e pouco fogo. Tanto o presidente Evo Morales e quanto eu sabemos que a única chance que temos de nos desenvolvier é ter paz na América Latina e na América do Sul. Disse ao presidente Evo Morales que o Brasil precisa do gás da Bolívia e a Bolívia precisa vender o gás para o Brasil. Então é preciso encontrar o ponto de equilíbrio", disse Lula em entrevista à imprensa em Viena.

Segundo ele, as pessoas precisam aprender a conviver "democraticamente" na diversidade. "Precisamos comprender que só muita tranqüilidade e paz vai nos dar a chance de transformar o continente desenvolvido", completou. Na manhã de hoje (13), o presidente boliviano Evo Morales e o chanceler brasileiro Celso Amorim declararam que a conversa demonstrou as "afinidades" dos países e a retomada do diálogo entre as partes. A solicitação do Brasil de que fossem considerados os documentos que vem sendo assinados sobre o tema e o trabalho desenvolvido pelos técnicos dos dois países, em comissão bilateral, também foi atendida.

Morales e Amorim falaram rapidamente à imprensa logo após o café da manhã que o boliviano manteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no saguão do hotel em que o brasileiro está hospedado, em Viena. O boliviano reafirmou que tem "afinidades" com o presidente Lula e voltou a atribuir à imprensa a responsabilidade pelos mal-entendidos em torno de suas declarações de quinta-feira: "Estamos sendo vítimas de alguns meios de comunicação que buscam confrontar-nos. Tentam enfrentar-nos, mas não vão conseguir, porque respondemos a povos que historicamente lutaram para libertar-se, para melhorar sua situação econômica."

"Como países vizinhos, somos países aliados", disse ele. "Dentro desse marco, as negociações seguirão avançando. (...) Somos grandes aliados como países, como presidentes, como governos, e dentro desse marco jamais vão poder nos fazer enfrentar com o companheiro Chavez."

Morales, como havia pedido ontem pela manhã o ministro Amorim, transferiu aos técnicos dos dois países a responsabilidade pelas negociações: "Há uma comissão de ministros de Hidrocarbonetos". "Isso oportunamente se vai informar aos presidentes. Temos muito interesse de aumentar os volumes de exportação para o brasil e outros países, como também é importante esse tema do preço, mas isso está nas mãos da comissão técnica", disse em resposta a questionamentos dos jornalistas a respeito de eventuais conversas com Lula sobre questões como a renegociação de preços e volume de gás exportado para o Brasil.

Ele lembrou que o princípio que norteia a negociação sobre preços é a racionalidade. "Isso depende da comissão econômica, como dissemos na declaração, que os preços devem ser tomados em conta racionalmente, que beneficiem ao Brasil, que beneficiem a Bolívia. Isso oportunamente a comissão dirá."

Enquanto ontem, Amorim não descartava a retirada do embaixador brasileiro de La Paz, em caso de complicações nas negociações, hoje falou-se em troca de visitas. "Temos muito interesse, inclusive, de que o presidente do Brasil nos visite, mas há um acordo. Logo estará o chanceler na Bolivia, e também visitaremos o Brasil".

Para o ministro, a reunião ajuda a recriar o clima de confiança entre os dois países. Questionado sobre eventuais detalhamentos das negociações que pudessem ter surgido na conversa entre os dois presidentes, Amorim também transferiu a responsabilidade aos técnicos: "Não falamos em detalhes, mas há uma comissão". "Os termos da comissão são o que prevalece. Ele [Morales] acabou de repetir isso", disse ainda. "Não se usou a palavra sem unilateralismo mas digamos, ficou implícito, será uma cooperação e um diálogo com base nos documentos assinados, e isso que nós queremos e e isso que deverá ser feito."

* colaboraram Aloisio Milani, da Agência Brasil, e Karla Wathier, da TV Nacional

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