Saúde

Associação diz que famílias recusam doação de órgãos por não saber a vontade do parente
30-09-2007 13:36

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Um dos motivos pelos quais as famílias brasileiras recusam a doação de órgãos e tecidos é a falta de conhecimento da vontade do parente que está com morte encefálica, afirma a presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Maria Cristina Castro. Ontem (27), o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, lançou campanha para incentivar a doação de órgãos.

De acordo com levantamento do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, 28,5% da famílias com potenciais doadores com morte encefálica no Brasil são contrárias à doação. A média aceitável pela literatura científica internacional é de cerca de 33%. Na Espanha, considerado o país mais avançado do mundo em doação de órgãos, a média de recusa é de 15%.

Por esse motivo, as últimas campanhas de doação realizadas pela ABTO (a mais recente se termina neste domingo, 30) têm se baseado na importância de as pessoas conversarem sobre a doação de órgãos. “Pela legislação brasileira, quem pode tomar essa decisão agora é a família. Mas existem ainda alguns mitos, preconceitos, preocupações da família em relação à questão da doação”, disse Maria Cristina Castro.

Segundo a ABTO, entretanto, a principal causa da diminuição das doações é a falta de notificação da morte encefálica, que no Brasil é obrigatória. Esse problema é responsável pela perda de metade dos potenciais doadores. De acordo com o Ministério da Saúde, o número de doadores caiu de 7,3 por milhão de pessoas em 2004 para 5,4 no primeiro semestre deste ano.

“O problema é a estrutura toda de saúde, e a gente sabe como estão sobrecarregados os nossos pronto-socorros, como faltam leitos de Unidades de Tratamento Intensivo, e como é difícil cuidar de uma pessoa que não tem mais prognóstico, quando estão nas filas de muitas pessoas que têm chance de sobreviver. É uma verdadeira 'escolha de Sofia' [personagem de filme baseado em romance de William Styron, Sofia é uma mãe polonesa, presa num campo de concentração durante a Segunda Guerra, obrigada a escolher um de seus filhos para ser morto. Se não escolhesse um, todos seriam mortos] de quem está no pronto-socorro e na UTI”, afirma a médica Maria Cristina.

Outra possível preocupação das famílias com a doação de órgãos é a questão religiosa. A ABTO, entretanto, afirma que nenhuma religião se opõe à doação, nem mesmo as Testemunhas de Jeová, que não aceitam a transfusão de sangue.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) cita uma carta escrita pelo Papa João Paulo II em 2005, na qual ele diz que a Igreja “encoraja a livre doação de órgãos, mas não deixa de ressaltar as condições éticas para tais doações, salientando a obrigação de salvaguardar a vida e a dignidade tanto dos doadores como dos receptores”.

"A família brasileira é generosa. Algumas pessoas têm preocupações de que se possa acelerar o diagnóstico de morte para doar órgãos, mas isso não existe. As regras do Conselho Federal de Medicina para a regulamentação de morte encefálica no Brasil são mais rigorosas do que em outros países”, ressaltou Maria Cristina.

De acordo com o Ministério da Saúde, o programa de transplantes do Sistema Único de Saúde (SUS) é o segundo maior do mundo, superado apenas pelo da Espanha. Entre 2001 e junho deste ano, foram realizados 87.444 transplantes pelo SUS. Atualmente, 71.152 brasileiros estão na fila de espera de órgãos para transplante. No ano passado, o SUS gastou cerca de R$ 460 milhões com transplantes de órgãos e tecidos.

Existem no Brasil 71.152 pacientes em lista de espera para transplante, sendo 42.282 para órgãos sólidos, 26.793 para córnea e 2.063 para medula óssea. Veja, abaixo, o número de pacientes por órgão.

Coração 335
Córnea 26.807
Fígado 7.036
Pâncreas 167
Pulmão 135
Rim 34.098
Rim e Pâncreas conjugados (duplo) 511
Medula Óssea 2.063



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