Saúde

Governo do Estado financia pesquisa sobre febre amarela
29-10-2007 17:22

Durante dois anos, entre 2004 e 2006, na região de Porto Rico, noroeste do Paraná, e sudeste de Mato Grosso do Sul, médicos veterinários, biólogos e entomologistas capturaram e pesquisaram mais de 140 macacos-prego (das espécies cebus nigritus e cebus cay) e bugios (da espécie alouatta caraya) com o objetivo inicial de estudar a circulação do vírus da febre amarela nestes primatas. “Era preciso considerar a hipótese, felizmente não comprovada, de febre amarela silvestre no Paraná”, afirma o coordenador da pesquisa, o professor e pesquisador Italmar Navarro, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Estadual de Londrina.

Ele conta que este trabalho de campo teve vários outros desdobramentos importantes para a ciência, como a descoberta, já confirmada pelo Instituto Evandro Chagas, de Belém - referência internacional no diagnóstico de doenças em animais - da circulação do vírus da encefalite Saint Louis nos primatas pesquisados. “A doença é endêmica nos Estados Unidos, Canadá e Argentina, onde foram, inclusive, constatados vários casos de mortes em humanos”, afirma Navarro. No Brasil, e de acordo com os pesquisadores, a doença não representa riscos para a saúde pública.

O projeto “Investigação e monitoramento da circulação do vírus da febre amarela e outros arbovírus de interesse visando a criação de um modelo estadual de vigilância epidemiológica” foi financiado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior/Fundo Paraná (R$ 298 mil). Também participaram desse trabalho, que conta com recursos da ordem de R$ 564 mil para o período 2007-2010, a Secretaria Estadual da Saúde; o Ministério da Saúde; a Fundação Nacional de Saúde (Funasa); o Instituto Evandro Chagas, de Belém; o Centro Nacional de Primatas, de Ananindeua, Pará; e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, que autorizou a captura dos animais.

PESQUISA – Durante a pesquisa, o professor e pesquisador da área de Medicina Veterinária da UFPR – campus de Palotina, Walfrido Kühl Svoboda, desenvolveu tese de doutorado propondo a criação de um “modelo de vigilância para o controle e prevenção da febre amarela silvestre e outras enfermidades de interesse à saúde pública” a partir do monitoramento sanitário de populações de primatas. Sua tese foi aprovada com louvor e o modelo proposto deverá ser utilizado rotineiramente no Paraná e também em toda a região de transição da doença no Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás).

Várias outras pesquisas na área da primatologia foram ainda desenvolvidas sob orientação do professor e pesquisador Fernando de Camargo Passos, do Departamento de Biologia da UFPR. Como exemplos estão duas teses de mestrado, já defendidas, sobre populações de primatas na região do município de Porto Rico, dos biólogos Lucas de Moraes Aguiar e Gabriela Ludwig. Agentes patogênicos de interesse em saúde pública também foram pesquisados pela equipe chefiada pelo professor Italmar Navarro, entre os quais os causadores da toxoplasmose, leptospirose e leishmaniose. Futuramente, é intenção dos pesquisadores pesquisar as possibilidades de circulação de vírus em outros animais silvestres, inclusive no litoral do Paraná.

ALERTA – Além da necessidade permanente de estudar novas doenças em animais e em seres humanos, os pesquisadores paranaenses tinham como cenário para a sua pesquisa o registro, no ano passado, da morte de centenas de macacos na região endêmica da febre amarela, que compreende os estados das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, onde vivem cerca de 27 milhões de pessoas. Segundo o professor Italmar Navarro, em 2001, no oeste do Rio Grande do Sul, também foram detectados casos de febre amarela silvestre em populações de macacos. “Bandos inteiros foram dizimados”, conta.

Entre os estudiosos do assunto, é sabido que a mortandade de primatas opera como um alerta para a saúde pública. Inclusive, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde classificam os primatas como “animais sentinelas” contra uma eventual entrada da febre amarela. Quando é constatado que o vírus da doença está circulando entre eles, é preciso agir, e rápido, explica o pesquisador Italmar Navarro. Mesmo não se confirmando a doença entre os macacos-prego e os bugios que vivem nas regiões pesquisadas, os cientistas paranaenses optaram por atuar preventivamente. Iniciou-se, então, o estudo das populações e do perfil sanitário desses primatas à noroeste do Estado.

“Atualmente, no Paraná, não temos a doença nem em animais nem em seres humanos”, assegura o professor Navarro. Ele explica qual é a estratégia: “Assim que aparece um macaco doente ou morto, silvestre ou não, a ordem é, no mesmo dia, capturá-lo, examiná-lo, fazer o diagnóstico e desencadear imediatamente ações de vigilância”. De acordo com a Secretaria da Saúde, o último caso de febre amarela no Paraná , na forma silvestre, foi em 1971.

DOENÇA – Segundo a responsável pela Seção de Biologia Médica Ambiental do Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CCPI), da Secretaria de Estado da Saúde, Ângela Maron de Mello, “a febre amarela é uma zoonose impossível de ser erradicada”. Trata-se, afirma a médica, de uma doença de notificação internacional, cuja ocorrência pode implicar o fechamento de portos, aeroportos e fronteiras e até o bloqueio à exportação.
Por isto, diz ela, “é importante o monitoramento da doença em animais, humanos e outros vetores a fim de evitar a sua reurbanização”.

Conforme ainda Ângela Mello, existem duas formas de ocorrência da doença, a silvestre e a urbana. “A silvestre é endêmica em algumas regiões do Brasil e até o final da última década estava restrita à Amazônia Legal. Mas o comportamento do padrão silvestre sofreu alterações, comprometendo municípios do Maranhão, Piauí, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina”, relata ainda. Desde 1937, o país vem utilizando a vacina antiamarílica produzida no Brasil para o controle da febre amarela.

Ela lembra que no início do século passado a doença provocou dezenas de mortes em várias cidades do Brasil, “gerando inclusive problemas internacionais para o país”. O último caso de febre amarela urbana foi detectado em Boa Vista, em 1942, conta ainda. “Desde então os registros de caso foram em área silvestre”. No Paraná, de acordo com as estatísticas oficiais, os últimos casos datam de 1966 (em Cascavel, Toledo e Francisco Beltrão), de 1952 e 1953 (em Ponta Grossa, Tibagi, Campo Mourão, Paranavaí, Lupionópolis, Rolândia, Bandeirantes, Andirá e Ribeirão Claro) e de 1936 e 1937 (em Londrina, Jacarezinho, Cambará, Ibaiti, Tomazina, Jaguariaíva, Curitiba e Paranaguá).

AEN
Foto: Arquivo Italmar Navarro
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