Reflexão

Enquanto a banda passa...



Tem gente cansada, extenuada, esgotada demais. Não porque trabalhe demais, mas porque se preocupa, exige, e em consequência, se desilude demais. Quanto mais alto colocamos a “vara de salto” de nossas expectativas – e isto significa, quanto mais nos iludimos de que podemos ser ininterruptamente felizes aqui, e agora – menor a nossa esperança. Fé e esperança crescem no chão da sobriedade e da realidade. Mas também, no descanso, no olhar “os lírios do campo” como propõe Jesus. Seria ótimo se – vez ou outra - pudéssemos ficar “à toa na vida... pra ver a banda passar” como canta Chico Buarque – sem necessariamente ter sentimentos de culpa...

A realidade é que o paraíso já era. Vivemos num mundo decaído e marcado pela morte. Daí que Paulo nos convida a enfocar a nova realidade – somente perceptível aos olhos da fé e iniciada com a ressurreição de Cristo: “... não atentando nós nas cousas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Cor 4,18). Então temos, aqui, outra realidade não visível, mas invisível - que também quer ser levada em conta. Se não podemos evitar as pressões e tribulações que a vida nos impõe podemos, no entanto, evitar colocar nossas expectativas de vida terrena num patamar inalcançável. E nos alegrar então, com o fato de que todo sofrimento no momento presente é passageiro e ainda produz um “eterno peso de glória” no futuro. Consolo barato para um futuro distante? Ao contrário, esperança presente num futuro iluminado e perpassado pela glória de Deus. É alegria presente não apesar, mas em meio às dores e à “decomposição” da vida. Em meio ao caos e à transitoriedade, a glória de Deus se manifesta aos olhos daquele que crê na ressurreição para a vida! Isso sim é mais do que eu poderia esperar. É mesmo demais!

“Por isso não desanimamos: pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia” (2 Cor. 4,16). E isto, enquanto passa – não a banda – mas a vida com seus amores, no contraponto dos dissabores, rumo à eterna festa da glória divina, as bodas do Cordeiro com a sua amada, a Igreja!

Pr. Egon Lohmann


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