Cultura

Museu Oscar Niemeyer reúne espanholas na exposição “A Pele dos Filhos de Gea”
26-09-2007 14:19

Duas perspectivas opostas sobre o corpo humano, “nu” e “vestido”, são reveladas pelo olhar das artistas espanholas Isabel Munõz, fotógrafa, e Maribel Doménech, escultora.


Duas perspectivas opostas sobre o corpo humano, “nu” e “vestido”, são reveladas pelo olhar das artistas espanholas Isabel Munõz, fotógrafa, e Maribel Doménech, escultora. A fotógrafa centra seu foco na dimensão plástica e antropológica de corpos realçados por cicatrizes, pinturas e tatuagens feitas por povos da Etiópia. Maribel, por sua vez, sugere vestimentas que pontuam o imaginário humano em seus comportamentos sociais. O Museu Oscar Niemeyer abre ao público nesta sexta-feira (28) a mostra “A Pele dos Filhos de Gea”.

A exposição pode ser vista até 18 de novembro, de terça a domingo, das 10h às 18h. A mostra reúne 50 fotografias, em preto e branco, exibidas em grandes painéis, a maioria de 1,50m por 1,10, selecionados pelo curador Amador Griño. As imagens foram registradas pela fotógrafa durante suas viagens à Etiópia, entre 2003 e 2006. As fotos inspiraram a série “A Pele dos Filhos de Gea”, duas vezes premiada, em 2000 e 2005, no World Press Photo, nas categorias de reportagem artística e retrato.

A mostra foi organizada pela Sociedad Estatal para la Acción Cultural Exterior, pelo Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação da Espanha e pelo Consórcio de Museus da Generalitat Valenciana, com o apoio da Embaixada da Espanha no Brasil.

Paradoxalmente, as fotos de Isabel Muñoz mostram que o corpo despido não está necessariamente nu. Os adereços de metal e miçangas e as interferências feitas na pele podem representar o mesmo papel decorativo de uma peça de roupa, como fazem os homens e as mulheres de diversas tribos do Sul da Etiópia, como os body, nyangaton e surma. Uma prática que preserva e mantém vivos os costumes dos antepassados. “Isabel nos transmite uma visão muito pessoal e íntima das pessoas que fotografa”, afirma o curador. Griño explica que desde a antiguidade há registros das marcas corporais intencionais, sejam tatuagens ou pinturas decorativas. “Sempre tiveram importância em todas as sociedades primitivas e nas civilizações antigas”, observa.

As escarificações são feitas pelo traumatismo intencional, por incisões ou queimaduras que produzem na pele cicatrizes e quelóides considerados adornos. Tatuagens e cicatrizes formam linhas horizontais, verticais e figuras geométricas que ressaltam os movimentos e as linhas dos músculos ou representações de animais com os quais os guerreiros têm uma identificação transcendental. “Para mim, o corpo é um livro do que somos, um pretexto para falar do mundo dos sentimentos. Não se pode viver sem luz, sem sensualidade”, diz a fotógrafa.

O curador se mostra atento aos aspectos antropológicos da mostra. “Um menino recém-nascido, mudo e nu, não se diferencia de um animal, mas no momento que uma tatuagem, um desenho, uma miçanga o adorna, passa a tomar parte do humano, do mundo da cultura concreta onde nasceu”, escreve Griño no catálogo da exposição. Os desenhos obtidos pelas escarificações e pinturas identificam o clã ao qual pertencem.

O oposto, a vestimenta, é o tema das obras de Maribel Doménech, filha de um escultor e de uma modista. É a partir dessa combinação que a artista, desde 1994, associa seus conhecimentos para conceber intrigantes e insinuantes figurinos, tricotados em fios elétricos e iluminados por néon. Ela diz em sua apresentação, no catálogo, que não pode separar escultura e biografia. “Todo meu trabalho reúne processos emocionais e tecnológicos que tenho desenvolvido mediante séries de trabalhos”, diz.

Para Griño, Doménech analisa o vestido como envoltório do corpo, “dessas formas que tanto lhe interessam e que tanto condicionam todas as suas esculturas – segundas peles”. O curador selecionou quatro peças produzidas em 1998: “Como uma casa cheia de luz”, o vestido branco; “Para observar o mundo a uma certa distância”, o vestido preto; “Armas de Mulher”, duas agulhas de tricô presas a uma tanga; e “Sete palavras acerca da sexualidade”, sete calcinhas coloridas, de onde pendem fios que se misturam no chão.

“A pele dos filhos de Gea”
Período de exibição ao público: 28/9 até 18/11/2007
Organização: Sociedad Estatal para la Acción Cultural Exterior, Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação da Espanha
Apoios: Governo do Paraná e Embaixada da Espanha no Brasil
Museu Oscar Niemeyer
Rua Marechal Hermes, 999
Centro Cívico – CEP: 80530-230
Telefone: (41) 3350-4400
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h
Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes
(Não pagam crianças de até 12 anos, maiores de 60 anos e grupos agendados de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental)

AEN
Foto:MON
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