Cultura

Museu Oscar Niemeyer traz primeira mostra individual de Volpi a Curitiba
17-06-2007 12:44

O Museu Oscar Niemeyer abre no próximo dia 28 de junho a exposição “Volpi — O mestre de sua época”, primeira individual do artista em Curitiba e uma das exibições mais esperadas do ano no calendário do MON. A mostra reúne 117 obras produzidas entre 1920 e 1970, organizadas pelo curador e crítico de arte Olívio Tavares de Araújo, um dos maiores especialistas na obra de Volpi. Os quadros pertencem a 40 colecionadores brasileiros. A mostra fica em cartaz até o dia 30 de setembro.

“Esta exposição é um marco para o MON, pois as obras de Alfredo Volpi contam uma parte importante da história da pintura brasileira”, explica a presidente do Museu, Maristela Requião. Grandes trabalhos de Volpi, como “Manequins e Melancias” (1950), “Costureira” (1940), “Vista de Santos com o Mar ao Fundo” (do início dos anos 1950), “Sereia” (1960), “Grande Barco Negro” (1960), além das conhecidas composições com bandeirinhas, fazem parte da exibição. O ícone da mostra é “Bandeirinhas e Mastros”, tela pintada na metade dos anos 60.

“Procurei selecionar os mais belos trabalhos de Volpi, escolhidos um a um por suas qualidades”, afirma Araújo. O curador norteou sua seleção a partir de eixos principais — demonstrar a imensa atualidade da proposta artística de Volpi, um artista intuitivo, nunca um intelectual, que se interessou pelos elementos formais como composição, luz e cor, e demonstrar que ele foi um artista original que descobriu e inventou seus próprios caminhos. “Ele não é um artista temático. Grande parte da produção de Volpi é de espírito abstrato”, argumenta Araújo.

O pintor ítalo-brasileiro é considerado pela crítica como um dos artistas mais importantes do modernismo brasileiro. Por sua condição de humilde imigrante italiano, entretanto, o artista nunca fez parte do movimento modernista brasileiro. “Antes de ser um pintor de cavalete, Volpi era um pintor-decorador. Ele realizou ornamentos nas casas da sociedade paulista das décadas de 1920 e 30. Pintava preferencialmente fachadas de casarios e bandeirinhas que geometrizou”, explica o curador.

“Volpi estava separado do grupo da Semana de Arte Moderna, em primeiro lugar, pela questão social. Imigrante, ele lutava arduamente pela vida no momento em que os intelectuais e os patronos da semana a realizavam. Àquela época, ele era um simples operário, um pintor-decorador de paredes”, diz. “Sempre que ele entrou nas residências da sociedade paulistana, foi de tamanco e carregando baldes de cal para trabalhar, nunca para debates sobre as belas artes ou saraus”, afirma Araújo.

Autodidata, o artista começou a pintar em 1911, executando murais decorativos. Em seguida, trabalhou com óleo sobre madeira. Volpi sempre valorizou o trabalho artesanal, construindo suas próprias telas e pincéis. As tintas eram feitas com pigmentos naturais, a partir da técnica da têmpera, que o artista adotou no final da década de 1940. A maior parte das obras em exposição no MON foi produzida nessa técnica, que Volpi não mais abandonou.

Bandeiras – Na década de 1940, as “Paisagens de Itanhaém” abriram um novo caminho na pintura de Alfredo Volpi, já então um pintor respeitado, notadamente pela crítica. A partir dali, o artista abraçou o abstracionismo geométrico, iniciando a série de pinturas de bandeiras e mastros de festas juninas. O trabalho lhe rendeu, em 1954, o prêmio de Melhor Pintor Nacional na 2.ª Bienal de Arte de São Paulo. A partir da década seguinte, as bandeirinhas tornaram-se signos, formas geométricas que compõem ritmos coloridos e iluminados.

“Na minha opinião e na opinião de muita gente isenta e autorizada, para quem a obra volpiana apareceu, nessa mesma retrospectiva, numa dimensão surpreendentemente maior do que se esperava, o antigo e o modesto pintor de paredes do Cambuci é, realmente, o mestre brasileiro de seu tempo. Duas coisas mais facilmente verificáveis a sua mostra revelou: a insuperada mestria técnica do pintor e o caráter brasileiro de sua arte”, escreveu Mário Pedrosa, um dos mais importantes críticos de arte de sua época, na edição de 18 de junho de 1957 do Jornal do Brasil, a a respeito da primeira retrospectiva de Volpi no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

“Mestre não só no sentido do saber fazer, mas nessa época Volpi já tinha construído uma identidade, uma individualidade artística, estava maduro, pronto. Portanto, mestre no sentido de plenitude”, complementa o curador. Tavares Araújo explica que o artista ganhou notoriedade quando já tinha atingido a maturidade, com mais de 50 anos. “Trata-se aqui de um artista tardio. O grande Volpi surge a partir da década de 1940 — ele fez sua primeira exposição individual apenas aos 48 anos de idade.”

Biografia — Alfredo Volpi nasceu em Lucca, Itália, em 14 de abril de 1896. Dois anos depois, a família imigrou para o Brasil, instalando-se no Cambuci, bairro de São Paulo, onde o artista passou toda a vida. O pai dele, Ludovico Volpi, abriu um pequeno comércio de queijos e vinhos para manter a família. Ainda criança, Alfredo começou a trabalhar como entalhador e encadernador, entre outros ofícios manuais.

Volpi fez parte do Grupo Santa Helena, batizado a partir do nome do palacete que artistas como Aldo Bonadei, Mário Zanini, Clóvis Graciano, Fúlvio Penacchi adotaram como ateliê. Juntos, eles se dedicaram à pesquisa e desenvolvimento de técnicas apuradas e observação. Alfabetizado em italiano, Volpi sempre falou o português com sotaque. Apesar de nunca ter se naturalizado, o artista costumava dizer que o seu coração era brasileiro. Ele voltou apenas uma vez à Itália, em 1950. O artista morreu em 1988, aos 92 anos, em São Paulo.

Serviço
Volpi – O mestre de sua época
Abertura para convidados: 28 de junho
Abertura para o público: 29 de junho
De terça a domingo, das 10 às 18 horas
Até 30 de setembro
Patrocínio: Copel
Apoio: Governo do Paraná e Ministério da Cultura

Museu Oscar Niemeyer
Rua Marechal Hermes, 999, Centro Cívico
Telefone: (41) 3350 4400

Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes
Crianças de até 12 anos, maiores de 60 anos e grupos agendados de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental não pagam ingresso

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Foto Mon
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