Economia

Economistas alertam para efeitos mais amplos da turbulência no mercado internacional
16-08-2007 14:16

Brasília - A turbulência no mercado internacional, provocada pela crise do setor imobiliário dos Estados Unidos fez ontem (15) o dólar ultrapassar a barreira de R$ 2. Desde maio, a moeda norte-americana estava cotada abaixo desse patamar. E a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou queda de 3%. Embora o governo expresse sinais de tranqüilidade em relação ao câmbio, que segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está apenas provando que "é flutuante", a retirado de dólares do país por parte dos investidores deve servir como sinal de que é necessário uma política cambial que imponha restrições ao investimento de curto prazo, que permite ao investidor estrangeiro retirar seu dinheiro do país a qualquer momento.

"No caso do Brasil, o agravante é que a estrutura de investimentos se revela frágil e perversa quanto à capacidade de absorção de crises por fatores exógenos, visto que há grande concentração de recursos externos em ativos financeiros com elevada liquidez. Sendo, portanto, necessária a adoção de medidas para seleção de capitais estrangeiros, não fechando a porta de saída, mas premiando o capital de longo prazo", diz a análise divulgada pela agência de classificação de risco Austin Rating.

Edgar Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), afirma que, embora num primeiro momento o dólar esteja subindo – o que, para ele, beneficia a produção local e as exportações –, é possível que retome a trajetória de queda, voltando a prejudicar a indústria. Por isso, ele defende a adoção de medidas mais permanentes por parte do governo. "O fato é que o dólar está fora do lugar, está mal posicionado. Não é a crise que vai corrigir isso. O que vai corrigir é uma política monetária doméstica mais consistente com a trajetória de crescimento da economia do que a que vem sendo praticada até agora", disse.

A crise se intensificou nos Estados Unidos porque vários tomadores de empréstimos no setor imobiliário deixaram de pagar suas dívidas. Eles estão no grupo do subprime, um tipo de mercado que não exige garantias como comprovante de renda ou "nada consta". Como se trata de uma operação de altíssimo risco, os empréstimos são feitos a taxas bastante elevadas. O retorno para o investidor é bom, mas arriscado. Os bancos, que emprestaram muito, não estão recebendo de volta. Em conseqüência, as instituições e investidores do mundo inteiro que emprestam aos bancos também não recebem, e sofrem o chamado efeito dominó.

Ainda não há números oficiais sobre o tamanho do calote. As estimativas variam de bilhões a trilhões de dólares. "Não sabemos qual é o tamanho da exposição dos fundos de pensão do mundo no mercado hipotecário, por isso é muito difícil avaliar a profundidade da crise", ponderou Alex Agostini, economista-chefe da Austin. Mas ele disse não acreditar que o prejuízo atinja a casa dos trilhões.

Para a agência, é prematura avaliar se a crise financeira irá afetar a economia como um todo, o que ainda não aconteceu nem mesmo nos Estados Unidos. "A crise vivida pelo mercado financeiro mundial deve se limitar ao segmento de hipotecas nos EUA, com foco no subprime. Ou seja, de posse das informações disponíveis até o momento, a crise atual caracteriza-se como localizada e conjuntural", diz a Austin.

As expectativas são de que a crise não chegará à produção nacional, às fábricas e às exportações. "Esta crise afeta o mercado financeiro, mas a gente aqui não vai ter uma crise econômica do lado da produção, das vendas", aposta Agostini. Para ele, só haverá efeito na economia como um todo se mudar as expectativas do consumidor, o que mexeria nas estratégias do setor empresarial. "Aí o consumo cai, a produção cai. Aí tem que ajustar o custo", alertou.

Os dados sobre as vendas no varejo, divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reforçam a crença de que as empresas e os consumidores – que fazem a economia real funcionar – ainda não estão preocupados com o momento. A informação motivou até comemoração por parte do ministro Mantega: "Eu estou feliz porque a economia está crescendo vigorosamente, o mercado consumidor já é uma realidade. Nós estamos, com a pesquisa mensal de comércio apontando para 13% de crescimento neste ano, em relação ao ano anterior. A população está consumindo mais 13% e isso é demanda para as empresas brasileiras". Ele lembrou ainda que a produção está crescendo em todos os setores: "Há uma geração de emprego que é recorde. Nos sete primeiros meses, passou o que produzimos de emprego no ano passado inteiro. O investimento está correndo na frente do consumo".

Menos otimista, Edgar Pereira, afirmou que o fato de a indústria estar crescendo 4,5%, ao passo que o consumo cresce a 10%, pode preocupar. "Há de fato um aquecimento da economia, as vendas estão crescendo, mas isso não está se traduzindo inteiramente em aumento da produção e do emprego", disse.

Edla Lula
Repórter da Agência Brasil
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