Economia

Especialista em política agrícola alerta para riscos do agronegócio energético
17-07-2007 20:02

O presidente da Associação Brasileira da Reforma Agrária, diretor do jornal Correio da Cidadania e professor Plínio Soares de Arruda Sampaio fez um alerta, nesta terça-feira (17), para os perigos que se escondem atrás do ciclo do agronegócio energético, na forma como vem sendo defendida pelos Estados Unidos. A preocupação do especialista tem como base os riscos que a monocultura oferece para a agricultura familiar brasileira e a contaminação iminente do lençol freático e em conseqüência do Aqüífero Guarani.

“A produção de cana exige uma quantidade imensa de agrotóxicos e isso tem um risco de penetrar no lençol freático e chegar lá neste depósito de água doce, que é uma coisa extremamente valiosa para o nosso País, sobretudo tendo em vista que a água vai se tornar um recurso escasso”, declarou Plínio Arruda, ao participar da Escola de Governo do Paraná, a convite do governador Roberto Requião. “Então vai ser necessário ter uma administração disto em 20 anos, 30 anos. Mas isso é o que o governante, que não pode pensar só no dia seguinte, tem que pensar”, disse.

Em relação à monocultura da cana-de-açúcar, com um único objetivo de produzir etanol, Plínio Arruda alertou para os perigos de uma modificação imposta pelos países do primeiro mundo. “A monocultura é um risco enorme e tem efeitos graves no ponto de vista social e do ponto de vista ecológico e também do ponto de vista da soberania brasileira, porque qualquer modificação externa tem um impacto brutal dentro do país. Nós precisamos diversificar a agricultura”, completou.

O professor comparou o momento atual do Brasil a uma espécie de pneumonia sem febre. “Na aparência as coisas não são graves, na profundidade são muito graves e é este Brasil subterrâneo que precisamos trazer à luz no debate político, não ficar discutindo quem comprou boi ou quem teve filho natural. Isto é uma distorção, uma diversão que impede o brasileiro de ver os problemas reais no seu País”, avaliou.

Plínio Arruda refutou que a agricultura energética seja o futuro do Brasil. Segundo ele, a função da agricultura é nutrir o País. “É gerar uma renda que permita ao homem do campo viver com dignidade com a sua família. E que defenda o nosso meio ambiente, isto é que é função da nossa agricultura. Não é virar agricultura energética, ou agricultura do biodiesel, ou agricultura do etanol. Isto é subdesenvolvimento, é dependência externa, é servilismo e nós não devemos aceitar”, orienta.

Plínio Arruda, que completa 77 anos no mês de agosto, é um dos ícones da esquerda brasileira, lutou contra a ditadura militar e permaneceu exilado de 1964 até a edição da Lei da Anistia, no final dos anos de 1970; elegeu-se deputado federal duas vezes e esteve entre os coordenadores do Plano de Reforma Agrária do Brasil, desenvolvido no início do governo do presidente Lula. O professor é um dos fundadores do PT e no ano passado concorreu ao governo do Estado de São Paulo pelo PSOL.

Em sua palestra, Plínio Arruda avaliou os aspectos políticos das mudanças que estão acontecendo na agricultura brasileira considerando três premissas. “A primeira função da agricultura chama-se soberania alimentar. Ela precisa produzir o suficiente para que toda a população do país seja nutrida”. A segunda função, de acordo com ele, é gerar renda para a população rural que deve trabalhar na terra e viver com dignidade, “com cidadania real e efetiva”. Essa preocupação está ligada ao aumento do número de desempregados, que são levados aos bolsões de miséria dos centros urbanos. “O desenvolvimento industrial não gera emprego suficiente”, disse. A terceira premissa está ligada à conservação da natureza.

Agência Estadual de Notícias
Foto: Theo Marques - SECS
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