Economia

Mercosul completa 15 anos buscando sua consolidação
26-03-2006 15:07

O Mercosul completa 15 anos neste domingo, dia 26, enfrentando problemas típicos dos primórdios das negociações, mas aparentemente decidido a desenvolver projetos que transformem o bloco em um efetivo mercado comum, com integração econômica e política. Algumas ações se destacam nesse processo de convergência, como o empenho para viabilizar o parlamento comum aos seus quatro participantes (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a recente aprovação, pela Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, do Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (Focem). Ambas as propostas ainda precisam ser aprovadas pelos quatro países para entrar em vigor.

Comércio
A entrada em vigor, em janeiro de 1995, da Tarifa Externa Comum (TEC) assinalou o início efetivo da existência da união aduaneira entre os quatro países. Esse instrumento fortaleceu a corrente de comércio (importações e exportações) entre os integrantes do bloco, que era de pouco mais de 4,5 bilhões de dólares (R$ 9,6 bilhões) em 1991 e alcançou quase 19 bilhões de dólares (R$ 40,48 bilhões) no ano passado.
Para o ex-embaixador brasileiro na Argentina José Botafogo Gonçalves, é na área de comércio que o bloco apresenta o melhor resultado, seguido pela geração de investimentos dos países do Mercosul nos respectivos vizinhos. "Recentemente foi divulgado que empresas brasileiras investiram aproximadamente 6 bilhões de dólares (R$ 12,8 bilhões) na Argentina nos últimos anos. Isso é um fenômeno novo. Antigamente, quando se falava em investimento estrangeiro, a gente sempre pensava em investimentos que os europeus, os americanos ou os japoneses estavam fazendo nos nossos países."
Segundo Gonçalves, esse fator indica que a integração econômica entre os países está avançando. "O comércio é o primeiro passo, mas a venda cessa no momento da entrega da mercadoria. Já no investimento, há um envolvimento muito mais permanente", concluiu.

Câmbio
O economista Roberto Gianetti da Fonseca, ex-secretário da Câmara de Comércio Exterior, distinguiu duas fases nesses 15 anos de Mercosul. A primeira, segundo ele, foi marcada pela "lua-de-mel", com crescimento robusto no comércio entre os integrantes e um fortalecimento da união aduaneira. A segunda fase, de deterioração, teria se originado de divergências motivadas pelos regimes cambiais brasileiro e argentino no fim da década passada. "A partir do momento em que o Brasil, corretamente, adotou o regime de câmbio flutuante, e a Argentina resolveu insistir na utopia da paridade cambial, o Mercosul começou a deteriorar-se, porque houve um defeito de origem, a falta de convergência macroeconômica. Isso ocorreu de forma grave a partir de 1999", disse.

Avanços lentos
O economista Renato Baumann, da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe (Cepal) e professor da Universidade de Brasília (UnB) reconhece que o Mercosul proporcionou avanços significativos para a constituição de um mercado comum. Porém, em artigo publicado neste mês no jornal Valor Econômico, ele mostrou que esses avanços têm sido muito lentos. "Não se pode afirmar que esses 15 anos tenham sido propriamente um êxito", disse.
O bloco ainda apresenta um dos coeficientes mais baixos de abertura econômica. "Sua relação entre exportações mais importações e o Produto Interno Bruto (PIB) não é muito maior que 20%, enquanto em outros blocos regionais esse coeficiente chega a superar os 40%", destacou.
Se considerado o período entre 1991 e 2004, o professor lembrou que a Argentina cresceu (a preços constantes de 1995) em média 3,2% ao ano, o Brasil 2,5%, o Paraguai 1,5% e o Uruguai 2,1%. Nesse mesmo período, a América Latina e o Caribe em seu conjunto cresceram ao ritmo de 2,8%, sendo que o Chile cresceu 5,4% anuais. "O baixo dinamismo do Mercosul levou a que sua participação no PIB mundial chegasse a um máximo de quase 4% na segunda metade dos anos 90, mas voltasse, já no início da década seguinte, à situação anterior ao Tratado de Assunção (2,5%), bem abaixo de outros grupos de países (36% o Nafta, 27% a União Européia e 21% o Sudeste Asiático)", comparou.

Reportagem - Rodrigo Bittar e Marise Lugullo
Edição - Patricia Roedel
Agência Câmara
POW INTERNET
<

Nenhum item encontrado