Economia

Possível alta do dólar não justificaria freada na queda dos juros, diz economista do Iedi
14-08-2007 13:34

Brasília - Uma possível desvalorização cambial provocada pela crise no mercado imobiliário norte-americano não justificaria uma freada na queda da Selic, taxa básica de juros da economia. Essa é a opinião do economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira.

O país sairá perdendo, avalia Pereira, se o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduzir o ritmo da queda da Selic. “As autoridades monetárias não deveriam comprometer o crescimento econômico por causa de instabilidades externas”, diz.

A elevação do valor do dólar pode provocar alta na inflação porque várias mercadorias utilizam matérias-primas importadas, cujo preço depende da cotação da moeda norte-americana. Para impedir que a inflação fuja do controle, o Banco Central pode manter ou até aumentar a Selic.

A elevação dos juros é usada para controlar a inflação. Em teoria, com juros maiores há menos empréstimos e a economia cresceria menos. Isso provocaria um consumo menor das famílias e queda da inflação. Atualmente, em 11,25% ao ano, a taxa está em redução contínua desde setembro de 2005.

Pereira, no entanto, alega que a interrupção da trajetória de queda da Selic não seria necessária porque o câmbio não tem mais tanto poder na formação de preços. “Hoje, o cenário externo não é tão determinante para definir o nível de preços na economia brasileira”, acredita.O economista-chefe do Iedi cita como exemplo as tarifas telefônicas e de energia, que em 2006 deixaram de ser reajustadas pelos Índices Gerais de Preços (IGPs) da Fundação Getúlio Vargas, mais influenciados pela variação cambial que os índices setoriais utilizados atualmente. “Não há por que o Banco Central se precipitar e pôr em risco o crescimento do país”, ressalta.

No lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a economia brasileira poderia crescer 5% ao ano. As estimativas dos analistas econômicos, no entanto, são mais modestas e apontam expansão de 4,6% em 2007, segundo o último Boletim Focus do Banco Central. Caso os juros aumentem, os brasileiros passarão a consumir menos, o que terá impactos sobre o crescimento.

Segundo Edgard, outro fator que não justifica a interrupção da queda ou o aumento da taxa Selic decorrida de uma eventual subida no dólar é o aquecimento da demanda interna. “As indústrias estão vendendo a maior parte da produção no próprio país, então não vejo razão para o câmbio influir tanto nos preços aqui dentro”, ressalta.

De acordo com o economista, o mesmo fator explica por que as importações da indústria não seriam afetadas por uma possível desvalorização cambial. “Os investimentos são planejados conforme o crescimento das vendas, então enquanto a demanda interna continuar em alta, a compra de máquinas e equipamentos se manterá”, aposta.

Edgard, no entanto, admite que uma eventual alta do dólar, provocada pela fuga de capitais estrangeiros do Brasil para cobrir os prejuízos da crise imobiliária nos Estados Unidos, impulsionaria as exportações do setor. “De fato, as vendas de manufaturados para o exterior seriam o principal segmento beneficiado pela desvalorização cambial”, destaca.

Para o economista do Iedi, o país só tem mantido os superávits na balança comercial porque as commodities [produtos agrícolas e minerais] aos poucos tomaram o lugar das exportações industriais. “Essa crise seria uma oportunidade de as indústrias recuperarem a importância na pauta de exportações brasileira”, comenta.

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
POW INTERNET
<

Nenhum item encontrado