Educação

Recém-formadas da Unipalmares querem ajudar a incluir negros no mercado
16-03-2008 14:19

Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Sonia Maria da Silva, 47 anos, é analista financeira da Caixa Econômica Federal. Benvinda Medalha Pereira, 60, é servidora do estado de São Paulo.

Negras, ambas fazem parte da primeira turma de 126 administradores formada na última quinta-feira (13) pela Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares (Unipalmares), de São Paulo - todos eles afrodescendentes declarados.

Com o diploma na mão, elas prometem ajudar para que outros afrodescendentes alcancem posição menos desprivilegiada na sociedade brasileira. “Podemos ajudar a combater a discriminação no nosso trabalho”, afirma Sônia.

“Depois de passar pela Unipalmares, o negro que não ajudar o outro saberá que está cometendo um pecado”, diz Benvinda. A servidora é a mais velha recém-formada da universidade, que têm 87% dos seus alunos negros.

Estáveis no trabalho, as duas admitem que já poderiam estar planejando sua aposentadoria. No entanto, neste momento, não almejam a tranqüilidade. Elas têm novos planos profissionais, e a longo prazo: as duas fixam seu olhar em um horizonte mais distante, o da pós-graduação.

“Quero estudar até os 90 anos”, diz Benvinda. Ela conta que voltará a universidade no próximo semestre, desta vez para estudar direito. Assim que concluir mais um curso superior, vai se dedicar a uma especialização em recursos humanos.

“Um dia, sonhei em ser funcionária pública, depois, em estudar em uma universidade. O que impede que um vá mais longe?”, indaga, lembrando as dificuldades para conseguir seu primeiro diploma universitário.

Ela conta que concluiu o ensino médio em 2002, em um supletivo, quase 35 anos depois de deixar a escola para ajudar no sustento da família quando ainda morava em Belo Horizonte. “Meu pai dizia que as pessoas deviam estudar só para aprender a ler e a escrever. Nunca tive apoio.”

Primeira aluna matriculada na Unipalmares, Sonia é outra que se mostra orgulhosa com sua nova conquista. Escolhida a melhor aluna da turma, ela também faz planos. “Quero ser auditora da Caixa”, afirma.

Funcionária do banco há 26 anos, ela pretende também colaborar em iniciativas pró-diversidade propostas pela empresa, que ela diz já conhecer bem. “Posso nortear ações para diminuir a distância que existe entre os mais e os menos favorecidos.”

Para as duas, a formatura celebrada em no Ginásio do Ibirapuera foi um momento de grande felicidade. Em entrevista à Agência Brasil concedida um dia após a cerimônia, elas recordaram os obstáculos superados durante os últimos quatro anos.

"Tive que adaptar meu corpo a dormir quatro horas por dia e aguentar o trabalho e o cuidado com minhas filhas”, disse Sonia, que tem duas filhas, uma de 10 e outra de 17 anos. “A formatura foi a realização plena e absoluta”, lembra.

“Trabalhar durante o dia, estudar de noite, pegar o ônibus para chegar em casa à meia-noite não é fácil”, complementa Benvinda. “Parecia que estava flutuando quando entrei no ginásio. Eu tinha que me mexer para ter certeza que estava ali.”
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