Esporte

Jovens de comunidades carentes do Rio orientam turistas durante os Jogos
17-07-2007 14:03

Fernanda Espiridião e Rafael Henrique de Assis atuam no Pan por meio do programa Guia Cívico. Eles falam sobre a importância do projeto para inclusão social e enfrentamento do preconceito


Rio de Janeiro - Com um sorriso no rosto e um bom dia a jovem Fernanda da Costa de 16 anos distribui folhetos com informações sobre os Jogos Pan-Americanos para quem passa pelo Calçadão de Copacabana. Ela é uma dos 125 jovens da comunidade do Morro do Urubu que participam do programa Guia Cívico, do Ministério da Justiça.

O programa reúne cerca de 10 mil jovens entre 14 e 24 anos de comunidades carentes do Rio, como Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Morro dos Macacos, Rocinha e Vidigal. Selecionados por líderes comunitários, durante quatro meses eles tiveram aulas de ética, cidadania, turismo e um idioma, inglês ou espanhol.

Os guias ficam em pontos turísticos e em áreas próximas aos locais de jogo, onde orientam sobre o deslocamento e acesso às competições.

Conhecer o outro lado da cidade foi uma das oportunidades que o curso trouxe, segundo Fernanda da Costa. “As pessoas vivem num mundinho, elas não tentam conhecer muita coisa. Agora, com esse curso do Guia Cívico, estamos conhecendo [outro] lado do Rio de Janeiro”.

Esse outro lado é, por exemplo, o Corcovado ou até mesmo o mar. “Tem gente que nunca foi ao Corcovado, nunca foi ao Arpoador [praia localizada entre Copacabana e Ipanema], que só vê o mar pela televisão, conheço muita gente no Urubu [em Piedade, subúrbio da Zona Norte], que nunca foi à praia”.

O guia ao lado de Fernanda que também mora no Urubu, Rafael Henrique de Assis, se apressa em explicar que não é apenas por falta de recursos que essas pessoas moram no Rio e mesmo assim não conhecem o mar. O que as impede, segundo ele, é o preconceito. “Algumas é mais pelo preconceito no local onde ela vai. Ela chega na rua e as pessoas já ficam olhando”.

O trabalho é remunerado e durante seis meses os guias recebem uma bolsa de R$ 175. A líder comunitária do Morro do Urubu, Sônia Regina Gonçalves, diz que no começo os educadores deram uns “pitacos” para que os jovens não cedessem aos apelos do consumismo. “O apelo é o mesmo para o garoto da Zona Sul e da comunidade, mas temos que ter parâmetros. Falamos muito de dinheiro, do que eu tenho, do que você vê, do que você realmente precisa”, afirma.


Foi Sônia Regina quem fez a seleção com os 283 jovens da comunidade que se interessaram em participar do programa. Segundo ela apareceram mais meninas do que meninos, a maioria estuda e uma minoria, cerca de 3%, trabalha. A seleção deu preferência a jovens desempregados que tivessem estudando. O que contou para a escolha foi mesmo a vontade de aprender, segundo Sônia Regina. “O perfil que buscamos neles é de quem quer aprender, quer a mudança”.

Mas e depois do Pan-Americano e Parapan-Americano, o que acontece com todos esses jovens? Quem responde a pergunta é a coordenadora de programas especiais da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), major Claudete Lehmkuhl. “Estamos fazendo o que for possível para viabilizar com as autoridades locais a possibilidade deles continuarem com esse tipo de ação”.

A líder Sônia Regina já faz planos para dar visibilidade ao potencial dos jovens. “Queremos parcerias com empresas locais para tentar colocar esses jovens no mercado de trabalho dizendo que essa é a nossa prata da casa”.

Yara Aquino
Repórter da Agência Brasil
Foto: Wilsom Dias/Abr
POW INTERNET
<

Nenhum item encontrado