Internacional

Chefes de Estado do Mercosul defendem reação regional à lei de imigração européia
02-07-2008 11:48

San Miguel de Tucumán (Argentina) - Com maior ou menor indignação, todos os chefes de Estado presentes à 35ª Cúpula do Mercosul e dos Estados Associados defenderam uma reação regional frente à Lei de Retorno européia, que estabelece regras mais duras para tratamento de imigrantes ilegais. Até a noite de ontem (1º), os documentos oficiais da reunião não haviam sido divulgados, mas a presidente argentina, Cristina Kirchner, informou em sessão plenária que o rechaço às novas regras constaria na declaração final dos presidentes.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou acusar os europeus de racismo. “Outro lado do oceano desencadeia odiosa perseguição aos latino-americanos, muitas vezes cercada de conteúdos racistas”, afirmou.

Praticamente todos os chefes de Estado lembraram que a região, no passado, acolheu imigrantes europeus e é inadmissível o tratamento dado agora aos latino-americanos. “No Uruguai, quando perguntam de onde descendemos, dizemos que descendemos de barcos”, disse o presidente Tabaré Vasquez. “Nos dói particularmente que se tente discriminar e não se respeite os direitos dos latino-americanos que hoje tiveram que buscar em outras terras o que não encontram nas suas, como fizeram nossos avós. “Ninguém imigra por prazer, o faz por necessidade”, frisou.

O mesmo argumento foi usado pela presidente chilena, Michelle Bachelet. “ Nossos países foram muitos generosos e solidários com os europeus que chegaram noutro século em nossas terras. Agora somos nós os imigrantes”, ponderou.

O venezuelano Hugo Chavez – que já ameaçou com a possibilidade de represálias às empresas européias instaladas em seu país – pediu ações mais efetivas que um simples protesto do Mercosul e seus Estados Associados. “Buscar uma posição comum é necessário. Temos que prever ações. A Europa civilizada legalizou barbárie”, disse Chavez. “Queria chamar para que assumamos posições comuns e muito firmes”, reiterou.

Na última sexta-feira (27), o Parlamento do Mercosul já havia aprovado resolução de rechaço às novas regras imigratórias da União Européia. De acordo com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a indignação com a lei de imigração européia pode ser levada à Assembléia Geral das Nações Unidas, em setembro. Como exemplo de exagero da União Européia, lembra que a previsão de “internamento” para crianças ilegais é a mesma antes prevista para os integrantes do IRA.

“Tudo isso precisa de uma análise jurídica bem detida, mas o termo é o mesmo que se usava quando se prendiam os terroristas da então considerada terrorista IRA. Deixar uma criança presa como se fosse um terrorista porque simplesmente não tem um documento para morar no país é duro”, comentou.


Mylena Fiori
Enviada especial
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