Internacional

Escolha de Michelle Bachelet para comandar o Chile é um triunfo moral para o país, diz escritor
11-03-2006 13:51

Marcela Rebelo
Enviada especial

Viña del Mar (Chile) – A escolha de Michelle Bachelet para comandar o governo chileno é um triunfo moral para o país. Na presidência, ela representa as vítimas da ditadura do general Augusto Pinochet. É assim que o escritor chileno Luis Sepúlveda comenta a vitória da primeira mulher eleita presidente do Chile. Em uma entrevista à Agência Brasil, Sepúlveda diz que a vitória de Bachelet representa a esperança de melhor distribuição de renda no país.

Além de ser o escritor chileno que mais vende livros no mundo, Sepúlveda é militante do Attac (Ação para a Taxação de Transações em Ajuda ao Cidadão) – movimento internacional que tem como objetivo construir uma ordem sócio-econômica mais democrática e solidária na escala mundial.

Agência Brasil: O que representa para o povo chileno a eleição da nova presidente do país?
Luis Sepúlveda: Bachelet representa uma grande esperança. Primeiro é uma mulher muito capaz que demonstrou, nos postos de ministra da Saúde e da Defesa, uma enorme capacidade para administrar os problemas do país. Logo representa o melhor de uma tradição política. É muito importante, muito emblemático, que justamente uma das vítimas da ditadura seja eleita presidente do país. Não é somente a primeira mulher presidente do Chile. O Chile tem uma larga lista de mulheres capazes. Mas o fundamental é esse giro da história. De uma forma única, foi escolhida uma vítima da ditadura. É importante porque a história começa a andar novamente pelo caminho justo e mais sensato.

ABr: O fato de Bachelet ter sido presa e torturada na ditadura de Augusto Pinochet e agora ser eleita presidente representa simbolicamente, então, algo importante para o país?
Sepúlveda: Representa primeiro um triunfo moral porque a ditadura se encarregou de denegrir, desprestigiar as suas vítimas. Não existia na linguagem da ditadura outra palavra senão criminosos para os militantes de esquerda. É bonito que uma mulher, que foi inimiga declarada da ditadura, esteja no primeiro posto do país, ocupando a presidência. De alguma maneira, são todas as vítimas, na figura dela, que recuperam sua importância política e histórica.

ABr: Há uma esperança nova entre o povo chileno?
Sepúlveda: Há uma esperança muito grande de que o Chile abandone algumas práticas muito injustas e que são conseqüências do modelo econômico que se levou na ditadura. Há uma esperança de melhor distribuição de renda, há uma esperança de abandonar a pobreza. Não se pode esquecer que uma grande parte da população chilena é muito pobre e o Chile tem um crescimento bastante grande no panorama dos países da América Latina. Então, existe uma desigualdade evidente: os ricos do Chile são cada dia mais ricos e uma grande quantidade de pobres vive em extrema pobreza.

Por outro lado, a grande esperança é que, com o novo governo, as instituições da República Chilena voltem a exercer toda a sua independência e toda a sua capacidade para funcionar. Há um parlamento que está pluralmente representado, a Justiça tem que ser cada vez mais independente e os mecanismos de controle de poder têm que ser também muito independentes e muito efetivos. A grande esperança é que o Chile, com Michelle Bachelet, recupere sua trajetória democrática que foi interrompida em 11 de setembro de 1973 (data do golpe militar de Augusto Pinochet).

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