Internacional

Não há prazo para fim da guerra no Iraque, avalia pesquisadora
20-03-2008 21:48

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Cinco anos depois do início da ocupação norte-americana no Iraque, a pesquisadora em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Júlia Camargo afirma que não é possível prever quando a guerra pode acabar.

Entre as variáveis que devem definir esse prazo, está a eleição para presidente dos Estados Unidos, a ser realizada em novembro.

No entanto, para Camargo, é preciso desconfiar da retórica eleitoral, especialmente dos pré-candidatos do Partido Democrata.

O senador e candidato Barack Obama afirma que será possível retirar as tropas em 16 meses. A ex-primeira-dama Hillary Clinton, que também disputa a eleição, diz que 60 dias depois de assumir a Presidência iniciará a retirada das tropas.

A perspectiva de Camargo é outra. “Independentemente de quem substitua Bush [George W. Bush, atual presidente dos EUA] , o próximo presidente descobrirá que as operações no Iraque são limitadas”, disse, em entrevista à Agência Brasil.

Ela acrescenta. “Só será possível retirar a tropas quando houver uma estabilidade no Iraque, quando essas tensões sectárias entre sunitas, xiitas e os curdos, que se situam no norte do país, diminuírem, quando houver condições de desenvolvimento econômico, e essas tarefas levam um tempo muito grande para serem executadas com sucesso”.

Na opinião da pesquisadora, a ocupação traz pontos negativos e positivos. Mas mais negativos.

“Quando eu digo ponto negativo, a questão principal é de sofrimento humano, principalmente do civil iraquiano, por exemplo, um em cada cinco civis iraquianos hoje está na condição de refugiado de guerra ou espera por um asilo político”, afirmou, referindo-se a dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

A pesquisadora lembrou ainda o posicionamento da Cruz Vermelha e da Anistia Internacional (AI), de que a situação no país está “desesperadora”.

Segundo dados de um informe publicado pela AI esta semana - intitulado Matanças e desespero – Iraque cinco anos depois - “o Iraque é um dos países mais perigosos do mundo”.

A publicação informa que mais de dois em cada três iraquianos não têm acesso à água potável e mais de um em cada cinco vivem com menos de um dólar (menos de R$ 2) por dia.

Além disso, Camargo disse que a ocupação aumentou a tensão entre os grupos religiosos e a atuação de guerrilhas e terroristas no país.

“Há cinco anos a Al Qaeda não estava em território iraquiano, e hoje está. Então observa-se que as questões entre os xiitas, essa questão religiosa, sectarista, é muito maior hoje, muito mais sensível hoje no Iraque do que era cinco anos atrás”.

Outro ponto levantado por ela é que, apesar de a violência ter diminuído no Iraque, o número de ataques ainda é muito alto. “A redução da violência não aumentou a sensação de segurança no Iraque”.

Apesar dos problemas, a pesquisadora disse que a queda do regime ditatorial de Sadam Hussein é um ponto positivo, mas ressaltou que é preciso muita sensibilidade da comunidade internacional para que seja formado um regime verdadeiramente democrático, capaz de ouvir a população, em lugar de “uma democracia pronta”.

“É preciso ter um respeito maior, e não tentar agregar diferentes entidades, diferentes culturas num mesmo plano”.


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