Meio Ambiente

Estado vai adotar programa de uso racional de inseticidas e controle biológico nas lavouras
18-04-2008 11:58

Os níveis elevados na aplicação de agrotóxicos nas principais lavouras de grãos do Paraná indicam que se nada for feito urgentemente a situação tende ao descontrole, com graves prejuízos para os produtores e consumidores. Estudos realizados pelos engenheiros agrônomos Lauro Morales, da Emater de Londrina, e Flavio Moscardi, do Centro Nacional da Embrapa, em Londrina, constataram o aumento de 70% nas aplicações de inseticidas nas lavouras de soja nos últimos anos.

O alarme foi dado nesta quinta-feira (17) na reunião da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento com representantes dos principais órgãos federais e estaduais vinculados à Agricultura, além de representantes de associações e federações de agricultores, engenheiros agrônomos, pesquisa, assistência técnica e de crédito para discutir o tema.

Para o secretário Valter Bianchini, a situação é preocupante porque as aplicações descontroladas de agrotóxicos podem originar adoção de barreiras à exportação de grãos e derivados no futuro. A Secretaria vai coordenar a criação de um programa que tenha o envolvimento e o comprometimento de órgãos federais, estaduais e municipais além das entidades parceiras como Faep, Fetaep, Ocepar, Embrapa, Federação dos Engenheiros Agrônomos, Universidades, Banco do Brasil e outras. O foco de atenção será direcionado às culturas da soja, milho e trigo.

A Embrapa e a Emater-PR apresentaram uma proposta de manejo integrado que retoma o programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP), que provocou a redução na aplicação de agrotóxicos nas lavouras de soja durante a década de 80. Naquela época, a pesquisa e a assistência técnica intensificaram a recomendação do controle biológico contra a lagarta da soja, conhecido como baculovirus.

Durante a década de 70, início do cultivo de soja no Paraná, o número médio de aplicações de inseticidas atingiu entre quatro a seis aplicações por ciclo da planta. Com a prática do controle biológico, o número de aplicações caiu para menos de duas vezes no final da década de 90. “Houve uma racionalização na aplicação dos inseticidas, medida que precisa ser retomada agora”, defendeu Moscardi.

Esse esforço resultou na redução de 116 milhões de aplicações, ou R$ 2,5 bilhões economizados ao longo do período avaliado. Ou seja, uma economia de R$ 86 milhões ao ano. O valor ecológico desse levantamento é ainda mais significativo, disse o técnico. Os inseticidas organoclorados foram substituídos por outros menos agressivos ao ambiente.

A partir de 2000, as aplicações de inseticidas na cultura da soja aumentaram novamente, num ritmo de 8% ao ano, segundo avaliação da Emater, o que provocou um aumento no custo de controle de pragas da soja na ordem de R$ 100 milhões por ano.

Os técnicos apontam como fatores que levaram a esse retrocesso as práticas equivocadas de controle, principalmente com o uso do plantio direto. “A técnica é correta, mas a aplicação do agrotóxico está sendo inadequada”, frisou Moscardi. Segundo ele, na intenção de reduzir custos com mão-de-obra e mecanização, o produtor está utilizando a mistura de herbicida e inseticida, quando o correto seria aplicar apenas o herbicida para dessecar a planta anterior.

“Ao pulverizar a área com herbicida e o inseticida, antes de saber se haverá infestação de pragas na lavoura que ainda irá emergir, o produtor está aplicando uma mistura altamente tóxica que acaba com os inimigos naturais das pragas e provoca o desequilíbrio da lavoura que se torna vulnerável à infestação de doenças”, explicou Moscardi, da Embrapa.

De acordo com o técnico essa mistura faz com que pragas que antes eram secundárias e eram combatidas pelos inimigos naturais passam a se tornar importantes nas lavouras, levando a um gasto ainda maior para o controle da população de insetos e fungos que está cada vez mais elevada. O produtor entra num círculo vicioso de aumentar a aplicação de agrotóxicos porque a população de pragas aumentou. “Isso leva ao risco que houve na década de 70 quando soou o alarme do uso descontrolado de agrotóxicos nas lavouras”, disse Moscardi.

Para romper com esse círculo vicioso, Morales e Moscardi apresentaram a proposta para o uso racional dos agrotóxicos. “Que esses produtos sejam aplicados somente quando o inseto ou fungo atingir um tamanho ou grau de infestação que permite a aplicação dos produtos”, afirmaram.

Para Morales o produtor deve se conscientizar para que nunca se antecipe a uma aplicação porque o produto é barato ou porque economiza trabalho. “O produto deve ser recomendado somente quando necessário”, frisou. Quando for adotado um novo programa de manejo integrado de pragas, a meta é reduzir em 30% o volume de inseticidas utilizados nas três culturas: soja, milho e trigo e ampliar em 10% o uso do controle biológico para combater a lagarta da soja.

AEN
Foto:SEAB
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