Nacional

Requião defende que Estado volte a formular políticas de meio ambiente
28-03-2006 00:31

Em discurso na abertura da reunião de alto nível da COP8, na manhã desta segunda-feira (27), o governador Roberto Requião criticou duramente o mercado e sua busca pelos lucros, a omissão do Estado nas questões do meio ambiente e defendeu a retomada da formulação de políticas públicas de defesa ambiental. “No rastro dessa omissão (do Estado) aconteceram abusos, insultos, desaforos, atrevimentos como o contrabando da soja transgênica da Monsanto para o Rio Grande do Sul e daí, a sua difusão para alguns Estados brasileiros. Quanto a isso, o governo do Presidente Lula, como sabemos, teve que enfrentar uma situação dramática, restando-lhe poucas opções frente ao fato consumado”.

Para o governador, o Estado deve retomar o seu papel na formulação de políticas públicas de defesa do meio ambiente, ao lado dos movimentos populares e com a colaboração de empresários que tenham despertado sua consciência para o problema. “Juntos poderão, de forma solidária e parceira, opor-se às forças do obscurantismo, da destruição, esses novos vândalos que atentam contra a civilização”.

O governador Roberto Requião disse aos ministros do Meio Ambiente de mais de 100 países presentes à reunião da COP8 que a fórmula usada pelos defensores do mercado é a de taxar como “atrasados” ou "populistas" os que estão preocupados com o meio ambiente.

“Avançado é o mercado, que não tem nenhum compromisso com as pessoas, com a preservação”, ironizou. O governador disse que para o mercado, “atrasados somos aqueles que acreditam que o Estado jogue um papel transcendental, imprescindível e único, não apenas nos cuidados com o bem estar e a proteção da nossa gente, e sim também na defesa do meio ambiente”.

Em seu discurso, o governador mostrou declaração recente do economista Jeffrey Sachs, um dos maiores defensores do neoliberalismo e da globalização nos anos 80, que aconselhou que se traga o Estado de volta. Para Sachs, as forças de mercado não são solução para a pobreza e outros problemas fundamentais do mundo moderno. “E que outros problemas fundamentais do mundo moderno, são tão fundamentais quanto a proteção do meio ambiente?”, observou o governador.

As conferências, a MOP3 e a COP8, segundo o governador, espelham a confrontação entre o Estado e os interesses do mercado. “O mercado tem compromisso tão somente com o lucro, com resultados financeiros, com o êxito dos negócios. Caso medidas de proteção do meio ambiente, por exemplo, o Protocolo de Kyoto, interponham-se no caminho das transnacionais, azar do meio ambiente. “.

O governador disse ainda estar preocupado com as políticas de desenvolvimento sustentável que buscam contemporizar desenvolvimento e proteção da natureza. “É que vejo, sob a capa protetora da proposta de “desenvolvimento sustentável”, concessões perigosas. Meu Deus, já cedemos tanto, as agressões já foram de tal monta e, ainda assim, em relação ao pouco que resta intocado ou mais ou menos preservado, lá vamos nós fazendo exceções, cedendo aqui, concedendo lá, abrindo espaço para esta insana visão de progresso.”

O governador Roberto Requião elogiou a decisão do governo brasileiro pela decisão de identificar as cargas de produtos transgênicos e a pela posição contra a produção, testes e comercialização da semente Terminator, mas fez uma ressalva. “O ideal é que em vez de se adiar a vigência de decisões para daqui não sei quanto anos, seria que todas as medidas tomadas e aconselhadas por essas conferências, pudessem vigir imediatamente. Esse sentimento de urgência deve cutucar, pressionar organismos internacionais e governos.”, afirmou o governador.

Foto: Julio Covello-SECS
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