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Agroenergia: um novo modelo de agricultura?
23-10-2006 12:10

A agroenergia oferece ao Brasil a oportunidade de criar um novo modelo de desenvolvimento rural muito mais equilibrado do ponto vista ambiental, social e econômico. A opinião, em tom de alerta, é do economista polonês Ignacy Sachs, em seminário realizado na última quarta-feira, dia 18, para gestores da Embrapa.

Sachs lembrou, à guisa de abertura, que hoje cresce o interesse mundial pela agroenergia porque ela pode alavancar a solução de alguns dos grandes problemas da humanidade tais como as alterações climáticas, o déficit na oferta de empregos e a previsível crise energética em razão do esgotamento das reservas e da geopolítica instável dos países produtores de petróleo. Segundo ele, a oportunidade é histórica e não pode ser perdida pelo Brasil e também pelo mundo.

Ele acredita ser possível uma “moderna civilização da biomassa”, com uma nova matriz energética, em que se possa substituir em escala significativa a dependência ao petróleo e assim reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa. Mais que tudo, ele defende que seja possível criar no mundo tropical uma nova agricultura intensiva em mão de obra, mas que seja economicamente competitiva. Do contrário, diz ele, “corremos o risco de aumentar as favelas”.

Criticando o Pró-Álcool, que resultou “em concentração de terras e de riquezas e em exclusão social”, Sachs advogou um grande esforço de pesquisa, na verdade “um esforço de guerra, uma espécie de “Projeto Manhattan” (que criou a bomba atômica nos EUA) agrícola, para o desenvolvimento de conhecimentos sobre biodiversidade, biomassa e biotecnologias, para que se tenha não apenas o desenvolvimento da bioenergia, mas de todo um leque de produtos derivados.

Ele quer sistemas agrícolas energia-alimentos integrados e pluralistas, “produções casadas” em lugar de produções justapostas, tais como biodiesel-pecuária, onde o farelo de soja ou a torta de mamona, por exemplo, resultante da produção do óleo alimente projetos intensivos ou semi-intensivos de pecuária de corte e leite, liberando mais terras para atividades de recuperação e conservação ambiental. E, também, o reaproveitamento de resíduos agrícolas para a produção, por exemplo, do etanol celulósico, uma tecnologia ainda em desenvolvimento.

Sachs alerta que a construção dessa nova agricultura exigirá políticas públicas adequadas para intervenção no mercado e nas relações entre seus agentes, tais como o selo social para o biodiesel, já existente (“e porque não para a cana?”, para também garantir a participação dos pequenos agricultores), o controle social dos contratos de produção, a definição de metas ambientais e sociais para os projetos de produção, a administração de preços de insumos em situações de preços atrelados e mercados comunicantes como os de petróleo e de álcool, por exemplo.

Aludindo às conseqüências indesejáveis do uso da riqueza gerada pelo petróleo em países do Sul, tais como sobrevalorização de moeda e corrupção em razão do acúmulo de divisas, Sachs defende um uso diferenciado da riqueza gerada pelo mercado de agroenergia para “tratar desigual os desiguais”, sustentando essas e outras políticas públicas tais como financiamentos de longo prazo, acesso à terra, ao conhecimento, à assistência técnica e ao mercado.

Questionado sobre a reduzida liberdade que a globalização concede aos países para formular políticas públicas, Sachs reagiu dizendo ser “uma doença das esquerdas explicar tudo pela globalização”, pois “deixaram de ver tudo o que se pode fazer internamente” no país. Ele acredita que, no caso da agroenergia, os países tropicais, com suas vantagens comparativas e afinidades, têm liberdade para definir suas estratégias, renegociar os acordos que lhes são lesivos, antepor condições para os investimentos de empresas internacionais no mercado de agroenergia, fugir da armadilhas das patentes internacionais e fortalecer o diálogo sul-sul.

O diretor executivo Kepler Euclides Filho, nos comentários finais do seminário, elogiou a preocupação de Sachs com o plurarismo e a integração de atividades econômicas nos projetos de agroenergica, lembrando os riscos e o insucesso experimentado por regiões dedicada a monoculturas. Uma leitura atenta do Plano Nacional de Agroenergia mostra que várias das preocupações de Ignacy Sachs aí estão presentes, tais como a inclusão dos pequenos produtores, a ênfase em projetos como a integração pecuária-lavoura-florestas para a recuperação de áreas de pastagens degradadas e a ampliação do esforço de seqüestro de carbono.

Renato Cruz Silva
Assessoria de Comunicação Social
Embrapa Sede
Contato: (61) 3448-4039
renato.silva@embrapa.
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