Saúde

Cães e gatos abandonados podem comprometer a qualidade de água
10-10-2008 21:10

O constante atropelamento de cães e abandono das carcaças em rodovias preocupa cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e técnicos da Sanepar. Os cães mortos ficam na rodovia, próxima ao manancial do Rio Iraí, utilizado para abastecimento de Curitiba e Região, até a completa decomposição. Além de não receberem destino adequado, as carcaças podem contaminar a água e o solo e transmitir doenças.

“A maioria dos cães atropelados tem dono. Precisamos estimular a guarda responsável dos animais, evitando muitos problemas além dos atropelamentos, como a transmissão de zoonoses e mesmo o aumento do número de cães de rua”, explica o professor da UFPR, Alexander Biondo.

Ele e outros interessados participam de um grupo de estudos sobre o controle de cães na Área de Proteção Ambiental (APA) do Iraí, desde 2004. Nesta semana, Sanepar, UFPR, prefeituras vizinhas à APA e outros órgãos interessados realizaram encontro para discutir a guarda responsável de animais e qualidade de água na APA do Iraí.

O problema do abandono de cães, porém, não é exclusivo dessa região. Segundo dados divulgados durante o evento, no Brasil, a média é de um cão a cada quatro habitantes. “Em países em desenvolvimento, como o Brasil, 75% dos cães com dono têm acesso à rua”, explica a veterinária Carla Molento, que desenvolve pesquisas sobre a área.

Segundo ela, nem a eliminação nem a castração de animais resolve o problema do número de cães de rua. “Hoje é crime ambiental capturar cães de rua para matá-los, além de ser péssimo exemplo para a população. Além disso, os cães migram de um lugar para outro”, explicou. A pesquisadora também afirma que apenas a castração dos animais não resolve e que é preciso investir na educação para que os donos entendem suas responsabilidades.

DOENÇAS – De acordo com o professor Italmar Navarro, da Universidade Estadual de Londrina, das mais de 190 zoonoses, doenças comuns entre homens e animais, todas têm relação com a água. “Numa cidade com 500 mil habitantes, teremos quase 80 mil cães e 20 mil gatos. Por dia, a produção de fezes chega a 50 mil quilos e outros 200 mil litros de urina. Para onde vai tudo isso? Para os rios”, descreveu.

Ele lembra a situação da lavagem de canil, quando com a mangueira manda-se todos os excrementos animais para a galeria de águas da chuva. “As galerias de águas pluviais recebem todo esse material que vai parar nos rios, onde buscamos água para suprir muitas de nossas necessidades”, alertou.

Navarro lembrou do maior surto de toxoplasmose por transmissão hídrica no mundo, ocorrido em Santa Izabel do Ivaí, no Paraná. Sob administração municipal, a rede de distribuição pública de água levou a doença para as casas: 425 pessoas foram infectadas. No reservatório da estação de captação de água moravam três gatos. “A água vinha de poços tubulares profundos, por isso se imaginava que estava livre de qualquer contaminação. Mas, a vulnerabilidade estava na distribuição”, contou.

EDUCAÇÃO - Entre as atividades que o grupo desenvolve está a parceria com a prefeitura de Piraquara, num projeto de conscientização de donos de cães. “Muitos cães são abandonados porque estão velhos, com sarna, ou até mesmo porque a família sai em férias”, explica a médica veterinária da Vigilância Sanitária do município, Elizabete Balbino Javorouski. Depois de realizar uma pesquisa sobre o assunto, a cidade investe em educação socioambiental, com a distribuição de uma cartilha sobre o assunto nas escolas municipais e inserção do assunto na grade curricular.

Segundo a gerente da Unidade de Serviço Educação Ambiental, da Sanepar, Wanderléia Coelho, o trabalho está acontecendo graças a inúmeras parcerias estabelecidas, “que fortalecem o compromisso pelo cuidado com a vida, em todos os sentidos”.

PORTARIA 518 – Entre os assuntos tratados durante o encontro, também foram discutidas as exigências da Portaria 518, do Ministério da Saúde, que traz as exigências sobre as características da água potável. “Com relação à interferência dos cães ou das carcaças de animais e zoonoses, existem vários itens na Portaria. Um deles é a ausência de coliformes, outro é o padrão físico-químico da potabilidade da água para consumo humano e há ainda o padrão de aceitação, com relação a sabor e odor”, explica o engenheiro Agenor Zarpelon.

Segundo ele, as várias reações químicas que ocorrem por conta da decomposição dos animais podem levar a um aumento da carga orgânica nos mananciais, estimulando o aparecimento de diversos microorganismos, como a microcystis. Microcistinas são causadoras da floração de algas e, em sua decomposição, podem causar gosto e cheiro desagradáveis na água.


Agência Estadual de Notícias
POW INTERNET
<

Nenhum item encontrado