Saúde

Dom Mauro Morelli defende prioridade a políticas públicas de segurança alimentar
15-08-2007 16:51

“Gostaria de dizer governador Roberto Requião que, quando eu era jovem, era contra um monte de coisas. Agora sou a favor de apenas uma: que criança não morra criança”. A afirmação é do bispo emérito de Duque de Caxias (RJ), Dom Mauro Morelli, convidado especial da Escola de Governo desta terça-feira (14). Ele defendeu que os governos devem dar prioridade às discussões em todos os níveis sociais para criar uma política de segurança alimentar, que não seja esquecida entre um governo e outro.

Dom Mauro Morelli, 72 anos, é um dos idealizadores do Programa Fome Zero criado pelo governo federal e está no Paraná para uma série de compromissos em todas as regiões do Estado. Ao iniciar a palestra, o bispo destacou a política do governador Roberto Requião contra os transgênicos e de apoio à agricultura familiar. De acordo com ele, a criança precisa de um acompanhamento mensal rigoroso.

“Isso é investimento em saúde, é desta forma que deve agir um verdadeiro estadista”, informou. O Paraná, na avaliação de Dom Mauro Morelli, tem muito a fazer ao identificar o que as universidades estão produzindo. “As universidades ainda estão distantes. Elas produzem conhecimento científico, muitas energias em função do mercado. É fundamental que a gente produza os conhecimentos para que o povo tenha mais vida com qualidade”, disse.

O bispo acredita que este é o principal desafio do Brasil hoje. “Toda população brasileira em algum programa de saúde relacionado à alimentação. Isso não é privilégio de pobre, mas de todas as classes sociais. Nós precisamos que o país entenda que alimento é saúde, tudo o que como e bebo, me dá saúde e vida ou me traz doença e morte”, destacou.

Planejamento – A criação de uma lei específica de segurança alimentar, segundo Dom Mauro Morelli, deve envolver principalmente o Conselho Estadual de Alimentação. “Obviamente os secretários não têm condição de avançar esta proposta, mas há um compromisso do secretário do Planejamento (Ênio Verri) em sentarmos para discutir uma avaliação mais profunda dos caminhos que se percorrem”.

O Paraná vive um momento especial. Segundo ele, é necessário promover várias audiências públicas pelo Estado. “Creio que com isso poderíamos ter uma lei que reflita realmente uma visão, que proporciona uma evolução cultural”. Para chegar a este entendimento, é necessário entender as leis que são aprovadas sem que haja um bom debate. “Com um bom debate em todo o Estado a gente pode ter uma lei que garanta a exigibilidade. Para você exigir as coisas tem que ter instrumento e povo mobilizado”, acredita.

Em relação ao Fome Zero, Dom Mauro Morelli disse que o Brasil passou a ter uma lei federal que ainda não está regulamentada e, por ser provisória, pode acabar com o programa. “Acho que isso ocorre porque ela se caracteriza pela própria cultura do Brasil e por serem medidas mais emergenciais, o que é uma necessidade. Agora, o que nós precisamos realmente é uma retomada daquela determinação, enquanto empenho do movimento pela ética na política”.

Segundo ele, enquanto o país não desconcentrar a renda e continuar produzindo alimento para a balança comercial, “vamos continuar cultivando a miséria e a fome”. O Fome Zero, na avaliação do bispo, conseguiu avanços impressionantes nesta fase existencial. A preocupação atual, segundo ele, não é emergencial, mas estrutural.

“O que é que fica depois que o (presidente) Lula terminar o seu mandato? Se você não tiver o marco legal no município, no estado, na federação, vamos ficar só nos princípios constitucionais, que são preciosos, mas que se não forem transformados em leis e programas, nada vai acontecer”.

REFORMA AGRÁRIA – Dom Mauro Morelli disse ainda que a reforma agrária brasileira, é um assunto que está atrasado e que deveria ter sido feita há muitos anos. Para isso, defende ele, é necessário discutir todos os temas relacionados ao assunto, como desenvolvimento econômico, destino da terra, política ambiental e a política agrária agrícola correspondente. “O importante, na minha visão, é que o país pense na ocupação de toda a terra, nas águas e nas florestas, de onde pode sair o alimento para as regiões e o país todo e também para a família humana”.

O bispo acredita que o avanço dos biocombustíveis pode se tornar uma ameaça à segurança alimentar. “Temos que ter energia sim, temos que ter alimento e energia também, agora, onde você vai colocar a razão da produção de energia? Não é na concentração de riqueza, isto exige discussão sobre transporte e sobre modelo de progresso que nós temos”, completou.

AEN
Foto: Theo Marques - SECS
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