Saúde

Especialistas divergem sobre idéia de aumentar preço do cigarro para combater vício
31-08-2008 14:32

Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Uma idéia em estudo na área de saúde é aumentar o preço dos cigarros mais baratos para R$ 5,00, como forma de inibir o consumo, especialmente entre as pessoas mais pobres que, muitas vezes, deixam de comprar gêneros essenciais para custear a dependência.

A informação foi dada pelo gerente do setor de Prevenção do Câncer da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, médico Celso Rodrigues, durante campanha realizada no Parque da Cidade para mostrar os males provocados pelo cigarro. A campanha faz parte da programação do Dia Nacional de Combate ao Fumo.

A tese, porém, não é apoiada pelo psicólogo José Fiúza, diretor de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos em Brasília.


No estande montado no parque pela Secretaria de Saúde, bonecos vestidos com um cilindro de espuma, lembrando nas cores um cigarro aceso, participaram do alerta aos fumantes. Foram feitas demonstrações em que jovens andavam de skate ou mostravam outros hábitos esportivos que exigem boa capacidade respiratória e que ficam comprometida com o uso do tabaco, segundo os médicos.

Celso Rodrigues, que esteve à frente da promoção, sugere que o governo estimule os agricultores que plantam fumo a dar lugar a outras culturas, de forma a enfraquecer o potencial da indústria de cigarros.

José Fiúza não acredita que aumentar o preço do cigarro reduziria o consumo porque, nesse caso, segundo ele, o fumante procuraria marcas mais fortes ou até usaria cigarro de palha ou fumo de saquinho, para ficar mais barato, com os mesmos prejuízos à saúde. Ele entende que a idéia pode ser "um artifício para arrecadar mais impostos".

Fiúza acha que a dependência química de todas as espécies só pode ser minorada com medidas de educação. O psicólogo diz ainda que a propaganda de cerveja na televisão estimula o alcoolismo. Para ele, o governo só conseguiu, até agora, inibir a propaganda de bebidas mais fortes, como vodca e whisky. Em sua opinião, é uma aberração vincular o esporte e a saúde à idéia de que é bom tomar cerveja, como sugerem promoções feitas pelas indústrias do setor.

José Fiúza argumenta que não há política do governo na área do tratamento de dependência química - que envolve também o uso de drogas - que vá do começo ao fim, por isso as soluções ficam difíceis. Quanto ao usuário, o psicólogo considera que é importante a vontade de uma pessoa para que ela consiga deixar um vício.

O segundo ponto, de acordo com ele, deve partir das campanhas de saúde pública e envolver uma estratégia para o combate da dependência. Em terceiro lugar, Fiúza destaca a participação da família como fator preponderante na recuperação.

Na Invasão da Via Estrutural (situada às margens da pista que liga o Plano Piloto a Taguatinga), um casal de baixa renda gasta por mês R$ 247,50 com a compra de cigarros. Francisco Alves de Lima fuma duas carteiras por dia e sua mulher, a doméstica Maria de Jesus Pereira, um maço a cada dois dias.

Francisco diz que se o cigarro mais barato subisse para R$ 5,00 ele deixaria de fumar, pois não poderia pagar o preço da marca que prefere, que é das mais caras, e não iria querer outra.


POW INTERNET
<

Nenhum item encontrado