Saúde

Trabalhador descobriu câncer causado por amianto quase vinte anos depois de deixar emprego
03-09-2006 15:18

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Dezenove anos após deixar o emprego numa fábrica de mísseis no município de Jacareí (SP), o paulista Silvane Dias Barrios recebeu a notícia de que tinha um tipo de câncer conhecido como mesotelioma. A doença afeta a pleura, membrana que envolve o pulmão. Ao receber o diagnóstico, no ano passado, ele soube que o câncer era conseqüência dos quatro anos e meio de trabalho na fábrica, período em que ficou exposto ao amianto.

“Agora tenho fé, procuro viver o hoje, sem pensar no amanhã. Mas quando recebi a notícia, perdi o chão, minha esposa estava grávida de seis meses, meu filho tinha cinco anos, foi como receber um atestado de óbito”.

O amianto é considerado uma substância cancerígena pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Desde 1995, o uso do amianto é proibido no Brasil. Mas a variedade conhecida como crisotila foi permitida a partir de 1997, em função das propriedades como a alta resistência da fibra ao calor.

Na opinião de Barrios, a proibição deveria ser total. “Isso deveria ser uma prioridade. Só quem está passando por essa contaminação, quem está sofrendo, não só eu, mas toda minha família, sabe o que é a causa do amianto”, diz.

Para ele, as próprias empresas deveriam tomar a iniciativa e deixar de usar o produto. “Na época em que eu trabalhava na fábrica, a gente sabia que existia o perigo, mas não sabia qual era a proporção. Mas eles (os donos das empresas) devem saber como é a real situação do amianto”.

Pela gravidade do caso do trabalhador, os médicos não indicaram tratamento com quimioterapia e sugeriram uma cirurgia para retirada do pulmão e colocação de uma prótese. “Se fizesse esse tratamento, a chance de eu morrer era alta e, se desse certo, o tempo de sobrevida era pouco, um ano e meio”.

Em julho do ano passado, o paulista optou por fazer um tratamento alternativo, à base de plantas e de argila, mesmo com a estimativa dos médicos de que teria no máximo mais três meses de vida. “Todos os dias fico enterrado no barro durante três horas”, diz.

Este mês, Barrios deve se submeter a outra série de exames. “Em julho, fiz uma chapa e o médico disse: o senhor é muito corajoso’. Eu disse para ele que corajoso não sou, mas sou iluminado, com certeza”.


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