Trabalho e Emprego

Crise provocará maior desaquecimento no mercado de trabalho mais qualificado, diz FGV
25-12-2008 15:45

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil


Rio de Janeiro - O mercado de trabalho brasileiro, sobretudo o mercado formal, que se mostrava aquecido até setembro deste ano, batendo recorde de geração de emprego, deverá passar por uma desaceleração devido à crise internacional. A afirmação foi feita pelo chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, Marcelo Neri.

Até agosto, o emprego no país estava 24,7% acima do nível de 12 meses do ano passado, que foi o recorde anterior da série, disse Neri, em entrevista à Agência Brasil . Isso correspondeu à abertura de 1,88 milhão de postos de trabalho formais (com carteira assinada) no Brasil no período de 12 meses encerrado em agosto.

Neri considerou esse resultado surpreendente, pois a crise internacional havia sido anunciada há um ano e várias economias desenvolvidas já enfrentavam recessão, com extinção de inúmeros postos de trabalho. “Até o último PIB [Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas no país] o quadro era surpreendente: apesar da crise, anunciada há mais de um ano lá fora, muitos países desenvolvidos estão com crescimento negativo e com destruição de postos de trabalho, e o Brasil, até pouco tempo, batia recorde de geração de emprego formal.”

O economista ressaltou que os números no mercado de trabalho mudam conforme o PIB, cuja variação no terceiro trimestre do ano atingiu 6,8%. Nos 12 meses encerrados em setembro, a taxa de crescimento do PIB foi de 6,4%, a maior da série histórica.

Como a crise chegou em outubro ao mercado de crédito, destacou Neri, trouxe preocupações, “como aquelas vividas nas crises externas da metade dos anos 90, que acabaram se tornando crises de desemprego”. Para ele, somente as grandes empresas deverão sofrer de forma mais acentuada o desaquecimento deste fim de ano, por causa da segunda etapa da crise.

Neri acredita, no entanto, que o desaquecimento tende a ser menor no mercado de trabalho das pessoas não qualificadas. “Quem está sofrendo mais com a crise, tanto no Brasil quanto fora, são as grandes empresas e as pessoas que trabalham nesses setores e têm trabalhos mais qualificados, mais formais”. Neri destacou, porém, que não existem até agora sinais consistente de que a crise tenha se instalou no mercado de trabalho brasileiro. “Chegou ao mercado creditício, às exportações, mas não ao mercado de trabalho. Houve algum desaquecimento no último mês, mas não a diminuição de postos de trabalho.”

Neri aposta que, apesar da desaceleração prevista, o ano de 2008 ainda deverá ser recorde na geração de emprego formal. “É um dado importante a ser considerado, porque é o ponto de partida para 2009 de um Brasil surpreendentemente bom, onde o mercado de trabalho cresce há quatro anos, mesmo com o mundo em um contexto de recessão.” O economista alertou que deve-se esperar um quadro de desaquecimento, embora a desaceleração tenha foco mais nas grandes companhias do que nas pequenas empresas.

Ele explicou que as grande companhias são mais sujeitas às variações das exportações e mais abertas aos canais de crédito do que os pequenos empresários e os trabalhadores menos qualificados. “Meu diagnóstico é que a crise ainda não se instalou no mercado de trabalho brasileiro. É preciso ficar atento, mas o mercado de trabalho do Brasil tem surpreendido”, afirmou.

O economista considera difícil fazer agora previsões e disse que as que tem visto estão “completamente furadas. E estão furadas mais para baixo do que para cima”. Isso, segundo ele, é natural, devido ao grau de preocupação. Neri chamou a atenção para o fato de que, até mesmo a pobreza, envolvendo renda gerada não só pelo trabalho, não aumentou no Brasil, mesmo durante as crises externas. “O Brasil tem redes de proteção social, uma série de amortecedores, como o seguro desemprego, e tem uma situação macroeconômica que vai oferecendo essa surpresa que é crescer a 6,8%, quando todos os países desenvolvidos estão no negativo.”


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