Trabalho e Emprego
Flagrante da Semana: Por que eles cancelaram a obrigatoriedade do diploma para jornalistas
18-06-2009 13:32
TweetMas qual o problema desta decisão? O que a sociedade perde com isto? Eu diria sem sombra de dúvidas que muita coisa. Não exigir a obrigatoriedade do diploma de jornalista vai abrir espaço para que tudo que é tipo de pseudo-jornalista venha a exercer a profissão. Sem contar que quem sai ganhando mesmo são os donos de imprensa, os grandes beneficiados com a decisão.
Não desprezando a atividade do profissional de culinária e de corte e costura, mas ontem o ministro Gilmar Mendes comparou os jornalistas com estas profissões. Para o ‘excelentíssimo’ ministro, assim como para realizar a função de corte e costura o jornalista não precisa de diploma. Agora eu pergunto: o que nós, jornalistas, temos a ver com outras profissões?
Não exigir o diploma vai jogar no lixo toda a preparação que um banco de faculdade tem para formar não apenas um ‘escrevedor de matérias’. Na faculdade estudamos ética – algo muito raro em qualquer canto que passemos. Até então se um jornalista não corresponde com a ética a categoria tinha poder de punir o profissional.
É no banco da faculdade que aprendemos a escrever não o que queremos, mas sim o que o leitor precisa saber. Coloco mais um questionamento: se o profissional jornalista não precisa de uma prévia qualificação teórica e prática, que tipo de informação ele vai passar ao público?
Um jovem que decidia fazer o curso de Comunicação Social/Jornalismo na faculdade tinha que investir na profissão. Desconheço alguém que invista em algo apenas por amadorismo. Só a título de exemplo, o curso na PUCPR custa hoje R$ 939,00. Ou seja, até o final do curso só em mensalidades a pessoa investiu R$ 45.072,00.
Agora o mais agravante: para que contratar um diplomado, que tem um piso de categoria no valor de R$ 1.961,82, se eu mesmo posso ser um jornalista ou contratar alguém para escrever algumas matérias e pagar muito menos? Esta foi sempre a visão dos coronéis da imprensa: sempre viram o piso do jornalista como teto. Ontem eles conseguiram colocá-lo chão a baixo.
Sem sombra de dúvidas o que os donos de jornais e estes brilhantes ministros querem é que mais uma categoria trabalhista perca seus direitos conquistados há 40 anos. Em vez do ‘grandioso’ ministro Gilmar Mendes fazer uma comparação como “ a atividade de culinária e de corte e costura poderiam ter direitos tão valiosos como a dos jornalista” vem com este papo de comparar escrever notícias com receita de bolo.
Eu iria ainda mais longe: que tipo de jornalismo o povo vai receber com jornalistas mal qualificados, mal remunerados (eles reclamam do nosso piso de R$ 1.961,82, mas e o salário de um ministro é de mais de R$ 23 mil) e ainda submetidos ao poder e forma de ver a notícia do patrão?
Meu medo é que sem critérios de contratação para exercer a profissão, os jornalistas venham a aceitar qualquer quantia de dinheiro para escrever. Já que o ministro comparou nossa profissão com outras, eu faria mais uma comparação para encerrar: imagine se o médico ou o advogado não precisasse ter diploma para exercer a profissão?
O que talvez estes demagogos escondem é que fica mais fácil repassar um lado da notícia para a população quando se tem o jornalista nas mãos. Espero que a categoria se mobilize e faça como no tempo da ditadura: mostre que a verdade não tem preço e que o povo merece um jornalista profissional e não apenas um ‘escrevedor’ de interesses políticos ou de particulares.
(O ‘Flagrante da Semana’, assim como a coluna ‘Balanço Político’, são obras de jornalismo opinativo, que expressam o ponto de vista do jornalista Antonio Bobrowec. Mande sua sugestão e crítica para jornalismo@pow.com.br)
Publicado: GuiaSJP.com - Texto de Antonio Bobrowec (Reprodução autorizada mediante citação do GuiaSJP.com)
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