Trabalho e Emprego

Maior participação da mulher no mercado pode ser indício de precarização do trabalho feminino
02-07-2009 17:32

Brasília - De uma forma geral, as mulheres brasileiras perderam mais postos de trabalho que os homens desde a eclosão da crise financeira internacional, em setembro do ano passado. No entanto, houve crescimento da participação feminina no mercado formal de trabalho, mostra o estudo A Crise Econômica Internacional e os (Possíveis) Impactos sobre a Vida das Mulheres, lançado hoje (2) pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) do governo federal.

O que parece ser positivo pode, na verdade, sinalizar a precarização do trabalho feminino. “Os salários de admissão das mulheres foram sempre inferiores aos dos homens no período pós-crise. Essa feminização que se verifica no mercado de trabalho formal pode estar associada a uma substituição de trabalhadores que custam mais por trabalhadores que custam menos”, avalia Luana Pinheiro, gerente de projetos da SPM .

No comércio, por exemplo, as mulheres ficaram com 88,8% das 52.278 vagas criadas entre outubro de 2008. No setor de serviços, a mão de obra feminina ocupou 78,29% dos 126.839 novos de postos de trabalho.

No caso da construção civil, a substituição de homens por mulheres vem ocorrendo tanto no setor formal quanto no informal, embora o segmento ainda represente menos de 1% do total de mulheres ocupadas. A tendência é anterior à crise e, nesse caso, não se deve à diferença salarial.

“A construção civil foi um dos setores que mais se abriu para as mulheres. A gente tem que investigar mais a fundo esse movimento”, afirma Luana, frisando que a SPM já desenvolve um programa de capacitação de mulheres para a construção civil. “Elas entram muito rapidamente no mercado, especialmente na área de acabamentos de obras, inclusive com salários muitas vezes melhores que os masculinos”, revela.

Outra curiosidade apontada pelo estudo é que o setor onde os homens mais perderam ocupação no período pós-crise foi em serviços domésticos – a queda foi de 5,66%, contra um recuo de apenas 0,89% na ocupação feminina. “Isso a acontece porque os homens que estão nesse tipo de serviço fazem atividades muito diferentes das mulheres. Os homens são os jardineiros e caseiros e as mulheres fazem o trabalho de cuidar da casa e dos filhos, que são atividades fundamentais para a reprodução da sociedade”, observa a gerente de projetos da SPM.

A análise dos efeitos da crise econômica por gênero é um avanço na avaliação de Laís Abramo, diretora do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil. “Se homens e mulheres têm posições diferentes no mercado de trabalho, era de se esperar que o impacto da crise fosse diferenciado. É fundamental ter uma análise cuidadosa desses impactos para pensar até que ponto as políticas de enfrentamento da crise devem incorporar elementos para responder a essa situação”, pondera, frisando que a crise se reflete não apenas na perda de empregos, mas na perda da qualidade dos empregos.

A partir de agora, os indicadores serão monitorados bimestralmente pelo Observatório Brasil da Igualdade de Gênero da SPM e os resultados embasarão as políticas públicas para as mulheres. “Essa pesquisa traz direcionamentos para a reformulação das políticas públicas. Por outro lado, nos possibilita aprofundar questões mais específicas que ainda não temos conhecimento”, diz Lourdes Bandeira, subsecretária de Planejamento da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
POW INTERNET
<

Nenhum item encontrado